em Meio Ambiente, Políticas públicas, Qualidade da Água, Recursos Hídricos

Em tempos de estiagem aqui no Sudeste e tantos outros lugares onde a escassez hídrica é quase constante, passamos a dar mais importância a este recurso tão essencial à vida: água. No post Produzindo mais com menos água foi exposto que a água é o recurso natural de maior importância para o desenvolvimento agrícola mundial.

Você sabia que apenas 18% do total de áreas agrícolas correspondem a quase metade da produção mundial de alimentos? Isto ocorre devido à irrigação, que proporciona altos índices de produtividade, mas, ao mesmo tempo, é responsável por 70% do consumo de água no mundo.  

Diante disso, torna-se cada vez mais necessário pesquisar e desenvolver técnicas que possibilitem a irrigação com a utilização de águas residuárias, que, além de proporcionar uma redução na quantidade de água extraída de fontes naturais,  colabora para a mitigação de um outro problema, que é o lançamento de grande parte do esgoto bruto em rios, lagos e mares.

A irrigação com a água de esgoto proporciona não apenas benefícios ambientais e econômicos, mas também pode substituir fertilizantes e pesticidas, uma vez que este material é rico em potássio, nitrogênio e fosfato. É evidente que devemos considerar que esses efluentes podem estar contaminados por microorganismos que causam doenças aos seres humanos, animais, e até a algumas espécies de plantas, mas diante do aumento das pesquisas sobre técnicas de aplicação segura e controlada de esgoto tratado na agricultura, é possível, com critério, fazer uso desses efluentes.

A utilização de águas residuárias na irrigação é realidade em alguns países, como Israel, Egito, Espanha, México, EUA e Grécia. Em Israel, país que tem quase 60% do seu território em áreas de solo desértico, esse sistema de irrigação começou a ser utilizado há 30 anos. Na cidade Israelense de Tel Aviv, próxima a Jerusalém, 100% da água residual é reaproveitada. Na região da Flórida, EUA, existem mais de 450 instalações de tratamento de esgoto fornecendo diariamente cerca de 3,3 milhões de metros cúbicos de água reciclada para irrigação de gramados, parques e campos de golfe. 

Além de exemplos internacionais, no Brasil pesquisas mostram a eficiência desta técnica na irrigação de diversas culturas. Em estudo realizado no Ceará a produtividade da cana-de-açúcar irrigada com água de esgoto doméstico tratado foi 38% maior que a irrigada com água potável, diferença que pode estar associada aos nutrientes presentes no efluente. Outro estudo, realizado pela UNESP com a cultura de pepino, mostrou que a produtividade foi 40% maior na irrigação com esgoto residencial tratado quando comparada à irrigação com água distribuída pela SABESP, demonstrando a importância da utilização de efluente de esgoto para o fornecimento de nutrientes e aumento de produtividade.

Plantio de cana-de-açúcar

Um estudo com melancia, apesar de não ter indicado maior produtividade, mostrou ser tecnicamente viável o reuso de esgotos na irrigação dessa cultura, chegando à conclusão de que, havendo monitoramento adequado, é possível irrigar hortaliças e frutas de ramas rastejantes com o uso de efluentes. Existem também estudos com mamona e algodão que indicaram maior produtividade na irrigação com esgoto tratado.

Recentemente na Bahia foi selado um acordo entre Secretaria Estadual da Agricultura (Seagri) e a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) para o lançamento de um programa que estimula o plantio irrigado com águas residuárias em municípios baianos. É um projeto pioneiro no Brasil e as expectativas são que haja um aumento significativo na produtividade agrícola do estado, que sofre periodicamente com a estiagem, principalmente na região do semiárido.

Vamos torcer para que haja mais iniciativas como essa!

Até o próximo post! 🙂

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Comentários
  • joao acacio motta
    Responder

    assunto muito interessante

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