em Meio Ambiente, Políticas públicas, Recursos Hídricos

Jack é um homem misterioso que se muda para um pequeno vilarejo. Sempre com o rosto enfaixado e usando óculos escuros, Jack vive trancado em seu quarto alugado e desperta a curiosidade dos moradores da cidade.

Personagem criado por H.G. Wells em 1987, Jack é um cientista que cria uma fórmula para ficar invisível, porém, sem um antídoto para voltar ao normal, refugia-se em um vilarejo em busca de uma fórmula para reverter sua invisibilidade. Mais tarde, em 1933, Jack ganha o sobrenome Griffin, em uma clássica adaptação do livro para o cinema.

Agora imagine que quando o Jack bebia um copo d’água, ela deveria se tornar invisível também, certo?! Estranho viajar nessas coisas, mas na economia existe um conceito muito interessante conhecido como “Água Virtual”… que podemos também chamar de “água invisível”, ou a “água de Jack”. Essa expressão foi criada pelo professor A. J. Allan (School of Oriental & African Studies – University of London), na década de 90.

A água virtual é definida como a quantidade de água envolvida em todo o processo de produção de algum bem de consumo, principalmente os agrícolas. Somente nos movimentos globais de produtos agrícolas, trilhões de litros de água virtual são transferidos ao redor do planeta. Essa conta foi feita por Arjen Y. Hoekstra da University of Twente, na Holanda, e UNESCO-IHE Institute for Water Education.

Graças a essas contas, hoje sabemos que o grande consumidor de água virtual é a carne bovina. Assim, quando você for fazer aquele churrasquinho na laje, lembre-se que cada quilo de picanha que colocar no espeto, gastou mais de 15.000 litros de água para estar ali, salgadinha e sangrenta… já se você gosta mesmo é de um lombinho, está consumindo virtualmente mais de 6.000 litros de água! Por último vem o frango, que a cada 1 quilo de asinha, sobrecoxa ou peito, lá se vão quase 4.000 litros de água…

E pra acompanhar, claro, a cervejinha gelada! E a cada copo que você entorna para dentro… mais 75 litros de água abaixo… será que é por isso que fazemos tanto xixi quando bebemos cerveja?? (hehehe)

Ah, e tem mais: se você adota um estilo básico para se vestir, saiba que sua calça jeans transada carrega 11.000 litros de água, somados com mais 2.900 litros da sua camiseta de algodão!

A lista é grande e na tabela apresentamos um pequeno resumo de alguns produtos e respectivos consumos de água virtual.

Vale lembrar que esses valores são baseados em médias globais, cada produto terá uma demanda de água virtual diferente dependendo das características climáticas locais, do rendimento e da produtividade da região, podendo variar muito de um país para outro.

Em um mapeamento do fluxo de água virtual pelo mundo, Hoekstra e Hung (2002) dividiram o planeta em países exportadores e importadores, que se relacionam formando uma balança comercial. O Brasil ocupa um lugar de grande exportador de água virtual, com principais mercados na Europa e na Ásia. Nosso país é um dos maiores fornecedores de água para países com escassez hídrica.

Considerando que o Brasil possui uma forte dependência econômica na exportação agrícola, é um dos principais exportadores mundiais de carne bovina e utiliza cerca de 60% do uso de seus recursos hídricos para a agricultura, imagine a quantidade de água que participa da nossa balança comercial! O pior é que todo esse recurso tão precioso e importante não é internalizado no preço dos produtos, principalmente porque ainda não temos uma política totalmente definida para a cobrança do uso da água no país.

Somente as exportações de soja significaram uma transferência de 50 bilhões de m³ (1 metro cúbico = 1.000 litros) no ano de 2005! Ainda temos que considerar que o Brasil possui um imenso potencial irrigável, muito pouco explorado e, portanto, com muito espaço para intensificar o uso da irrigação em suas terras. Pelos dados do final da década de 90, enquanto o Chile apresentava uma participação de áreas irrigadas de 78%, aqui no Brasil essa participação mal passava de 4%… (ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos – Importância da irrigação no desenvolvimento do agronegócio)

Toda essa discussão levanta a importância de progredirmos na legislação de nossos recursos hídricos, considerando a implantação de um sistema de cobrança pelo uso da água, para por em prática a Lei das Águas (Lei 9.433/97) e um de seus principais fundamentos:

“A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico

Afinal, não basta termos recursos em abundância se não soubermos como utilizá-los…

A cobrança pelo uso da água será abordada aqui, em outro post

Grande abraço.

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Mostrando 5 comentários
  • Rangel
    Responder

    Vocês estão de parabéns , estou em busca de conhecimento e conteúdo , quando tiver mais e atualizado por favor me enviarem …

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Agradecemos muito o comentário, Rangel. Você pode acompanhar nossos textos na fanpage do Facebook ou inscrever seu endereço de email para receber as postagens.

      Um grande abraço

  • Ian Vieira
    Responder

    Muito bem abordado este assunto. Sempre nos esquecermos das coisas que não vemos.
    Parabéns equipe.

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Valeu Ian…

      é o famoso ver para crer, né!?

      Grande abraço.

    • Aline Veról
      Responder

      Oi Ian, obrigada pela sua visita e pelo comentário. É importante colocarmos temas como esse em discussão, para chamar a atenção das pessoas para coisas que às vezes não são tão óbvias, embora sejam muito importantes. Um abraço, Aline

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