A ideia de “Crescimento” é um conceito central na nossa vida. Ele é praticamente um dos paradigmas fundamentais da sociedade de acumulação de bens. Afinal todos sempre querem ter uma residência maior, mais roupas, mais economias, etc… Se olharmos em grande escala, observaremos que o crescimento também é o paradigma que fundamenta a economia de quase todas as nações; se o PIB não estiver crescendo, tem algo errado com o país.
Esse paradigma tem suas consequências ruins. Desejar ter sempre mais talvez não seja o melhor caminho para a felicidade. Economias que precisam sempre crescer em um ritmo acelerado acabam por esbarrar nos limites dos recursos naturais do planeta.
Talvez seja na questão dos centros urbanos que fiquem mais visíveis os limites do crescimento. Já falamos em outros posts que o crescimento das áreas impermeáveis, consequência da expansão urbana, faz com que mais água passe a escoar pela rede de drenagem e, com o tempo, torna essa rede ineficiente.
Outra forma na qual o crescimento da cidade afeta o sistema de drenagem das próprias cidades é quando uma região onde naturalmente os rios alagam é ocupada. Um caso interessante é observado nas margens junto a foz do rio Botas, na divisa do município de Belford Roxo com o município de Duque de Caxias.
A região é disputada pelo crescimento imobiliário e até para a implantação de aterro sanitário. O problema é que nessa região o rio Botas naturalmente extravasa e ocupa as margens. Assim, além do fato de o que for construído no local vez ou outra vai alagar, essa ocupação vai retirar espaço do rio e piorar os alagamentos em outras regiões.
Um copo cheio de água tem a profundidade de uns 10 cm. Se virarmos essa água sobre uma mesa, a altura de água vai ter só alguns milímetros. Isso ocorre porque antes a água estava confinada pelas “paredes” do copo e quando ela pode se espalhar a altura fica bem menor. Com o rio ocorre o mesmo. Quando não está confinado e pode alagar as margens, ele atinge uma altura de água bem menor. No caso do rio Botas, no trecho final de Belford Roxo, se a região natural de extravasamento do rio for ocupada, as cheias podem piorar em mais de meio metro nas áreas que já alagam, tanto acima, em Belford Roxo, como abaixo, em Duque de Caxias.
Uma proposta para região é transformar essa área em uma APA, impedindo a ocupação dessas margens e garantindo que a situação dos moradores das áreas já “urbanizadas” de Belford Roxo e de Duque de Caxias não piore com enchentes maiores do que as que já ocorrem.
Esse problema se repete pelo Brasil a fora. Em Paraty, por exemplo, parte da região que o plano diretor municipal destina para o crescimento urbano é também uma área de extravasamento dos dois principais rios que cortam a cidade do sul fluminense.
É muito importante que cada cidade estabeleça limites para a expansão urbana, impedindo que esta prejudique a qualidade de vida de seus moradores.
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[…] falamos no post “Crescimento Urbano” sobre como o crescimento das cidades sem planejamento pode levar a ocupação de regiões que, […]
[…] Bom, a resposta é grande e complexa. Poderíamos falar de diversos fatores que influenciam essa susceptibilidade: a geografia; as características meteorológicas, como a tal Zona de Convergência do Atlântico Sul; a ocupação desordenada das encostas; o aumento da impermeabilização; a retirada da cobertura vegetal; e mais um monte de coisas que escrevemos ao longo de outros posts. […]
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eu achei muito interessante. Mas faltou mesmo são mais fotos. Isso me ajudou muito que até eu dou nota 10.
fala meu camarada! Ficou bem legal! Mostre mais regiões com este tipo de problema!! Abs Rafa
Fala Rafael, Fica como sugestão para próximas postagens outros exemplos onde esse tipo de conflito ocorre! Você conhece algum lugar com esse conflito?
Abraços,
Matheus M Sousa
Muito interessante colocar em questão o crescimento como paradigma da nossa sociedade. O que precisamos é de usar com sabedoria os nossos recursos, apostar em areas urbanas mais compactas e valorizar os espaços naturais. Parabéns!
Realmente temos que saber usar com sabedoria nossos recursos e tentar sempre quantificar os ganhos e as perdas das nossas escolhas. Quanto a apostar em áreas urbanas mais compactas o grande desafio é fazer para uma cidade com 6 milhões de pessoas (11 milhões contando a região metropolitana), sempre levando em conta que para garantir qualidade de vida é também preciso garantir um espaço mínimo para habitação e para a convivência coletiva.
Abraços!
Matheus M Sousa
Ficou muito boa a matéria, muito bem escrita e explicativa. Interessante uma empresa que se preocupe em informar as pessoas.
Obrigado Conrado! Toda sexta o blog é atualizado com um post sobre drenagem sustentável e assuntos afins.
Abraço,
Matheus M Sousa