Em primeiro lugar, deixo meus votos de Feliz 2015 para todos. Desejo que esse ano traga mais paz e saúde para nossas famílias e mais ética e responsabilidade para nossa sociedade como um todo!
Nesse verão, pude desfrutar de agradáveis duas semanas na serra fluminense, na Cidade de Nova Friburgo, onde nasci e tenho família e amigos até hoje. Há muito tempo não ficava por lá mais do que um fim de semana ou um feriado e, nesse recesso estendido, aproveitei para admirar a natureza da região, com suas belas montanhas e vales. Ainda hoje são notáveis as cicatrizes deixadas pela tragédia das grandes chuvas de janeiro de 2011, que completam hoje 4 anos. Assim, não poderia deixar de registrar um texto em memória, dedicado a todos que, infelizmente, foram atingidos de alguma forma pela imensa força da natureza, potencializada pelo descaso do poder público, presente em décadas de sua omissão “planejada” frente ao planejamento urbano.
Porém, ao invés de levantar dores e sofrimentos, gostaria de clamar pela esperança!
Esperança que nossa sociedade aprenda com os próprios erros, que nossa população tenda a reconhecer seu real poder sobre as decisões públicas, que nossos representantes políticos reconheçam suas responsabilidades frente aos impactos de suas decisões durante o exercício de seus mandatos e que, acima de tudo, prevaleça a Compaixão em detrimento da Competição, tão valorizada nesses tempos de plutocracia dominante.
Ao falar de esperança, trago duas fontes inspiradoras para alimentar nossas almas.
Uma fotografia da maravilhosa paisagem friburguense, feita por mim nesse período que voltei às minhas origens. Essa foto mostra as montanhas que olhei durante grande parte da minha vida, todos os dias, enquanto morava de frente para elas e ainda hoje, sempre que visito a cidade, tiro alguns minutos para contemplar. Impossível não ser tocado por um extremo sentimento de gratidão pela vida, de amor pela natureza e respeito por seus ciclos, mesmo ainda tão longe de realmente conhecê-los.
Por fim, reproduzo um poema de nosso eterno “poetinha”, que exalta perfeitamente meu eterno amor por minha terra, Nova Friburgo, e meu sentimento hoje, quatro anos após esse forte golpe que sofremos, com a esperança que existam tantos outros pensando assim: “E só espero, Coisa Linda, dar-te muitas coisas lindas…” (Vinícios de Moraes)
NA ESPERANÇA DE TEUS OLHOS
Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos
Penetrando lentamente as solidões da minha espera
E tu eras, Coisa Linda, me chegando dos espaços
Como a vinda impressentida de uma nova primavera.
Vinhas cheia de alegria, coroada de guirlandas
Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara
Cada gesto que fazias semeava uma esperança
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas.
Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
E tu apenas me sorrias, me sorrias, Coisa Linda
Como a fonte inacessível que de súbito está perto.
Pelas rútilas ameias do teu riso entreaberto
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.
Eu te juro, Coisa Linda: vi nascer a madrugada
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.
E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, Coisa Linda, dar-te muitas coisas lindas…
(Vinícius de Moraes, publicado em Poemas Esparsos, Cia das Letras, 2008)
Mais uma vez deixo meus votos de um excelente 2015 e que avancemos sempre mais!
Para quem quiser saber um pouco mais sobre a relação de Nova Friburgo com as chuvas, pode ler esses textos publicado aqui:
Quando a história deixa de fazer parte da história.
Histórico de enchentes no Brasil – Parte 3
Abraços a todos.