O Pantanal é uma das maiores regiões inundáveis do mundo, formado pelas cheias do rio Paraguai e seus afluentes. Tem cerca de 250 mil km² de extensão, com 80% da região localizada nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e o restante em território Boliviano e Paraguaio. Apresenta uma deslumbrante e diversificada fauna e flora, que segundo a WWF corresponde a 3.500 plantas, 656 de aves, 159 de mamíferos, 325 peixes, 53 anfíbios e 98 répteis.
Esta região é uma enorme planície com altitudes variando entre 80 e 150m e baixa declividade. Na época das chuvas, entre outubro e fevereiro, as grandes precipitações que caem nas cabeceiras do rio Paraguai, provocam uma elevação no nível de água do mesmo, que extravasa e acumula essas águas nas planícies, inundando toda a região. Essas águas chegam a gastar quatro meses ou mais para atravessar todo Pantanal, ficando intransitável por terra durante todo esse tempo.
O Pantanal é um dos locais mais bonitos que conheci. Nas minhas últimas férias pude desfrutar de uma viagem incrível pela região, com direito a várias paisagens lindas e muita aventura (jacarés, ariranhas, capivaras, aranhas, cobras e…). Mas essa região não é apenas importante por isso. Foi o Pantanal Matogrossense, a primeira região estudada com o auxílio do MODCEL, Modelo de Células de Escoamento, utilizado pela AquaFluxus em seus projetos e estudos acadêmicos.
O MODCEL foi elaborado pelo nosso amigo e orientador, o professor Marcelo Gomes Miguez, em sua dissertação de mestrado “Modelagem matemática de Grandes Planícies de Inundação, através de um esquema de Células de Escoamento, com aplicação ao Pantanal Matogrossense”, apresentada em abril de 1994, sob orientação do professor Flávio César Borda Mascarenhas.
Um dos grandes benefícios com a criação do MODCEL foi a possibilidade de representar melhor os fenômenos físicos, uma vez que o modelo é capaz de simular o comportamento hidráulico dos escoamentos não só dentro da calha do rio, mas também nas planícies adjacentes. Essa característica possibilita o mapeamento de áreas alagáveis, o planejamento da ocupação agrícola ou humana de determinada região e o estudo de alternativas de projetos de engenharia, simulando os escoamentos antes e depois das obras hidráulicas.
Segundo Miguez, o MODCEL mostrou-se capaz de reproduzir o fenômeno das cheias no Pantanal, pois, além de apresentar resultados coerentes com os hidrogramas medidos e calculados para os postos fluviométricos da região, forneceu informações sobre os escoamentos nas planícies, sendo o modelo propício para mapear a evolução das cheias nas bacias hidrográficas ao longo do tempo.
Nos últimos anos, o modelo sofreu várias evoluções, acrescentaram-se equações e ferramentas que possibilitaram sua utilização para simular os escoamentos tanto nas áreas rurais quanto nas grandes cidades (enchentes urbanas), objeto da Tese de Doutorado do próprio Professor Miguez. Hoje, é muito utilizado nos projetos e pesquisas do Laboratório de Hidráulica Computacional da COPPE/UFRJ, nas dissertações e teses de alunos da COPPE e nos projetos da AquaFluxus.
Em seguida exibo algumas fotos tiradas nesta minha viagem para o Pantanal. Créditos para as queridas amigas Ana Machado e Bianca Molinari.
