Todo dia o sol da manhã
Vem e lhes desafia
Traz do sonho pro mundo
Quem já não o queria
Palafitas, trapiches, farrapos
Filhos da mesma agonia
E a cidade que tem braços abertos
Num cartão postal
Com os punhos fechados na vida real
Lhe nega oportunidades
Mostra a face dura do mal
Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em que
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em que
– Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna –
Na última semana, fiz duas visitas de campo na Baixada Fluminense, em áreas pobres, degradadas, com pessoas vivendo de maneira sub-humana. Muitos em situação de risco, morando em casas literalmente “dentro” dos rios, convivendo com a falta de água, com o lixo e o esgoto, em meio a ratos, baratas e à ignorância de diversas pessoas…
Nos dias das visitas, eu vi pessoas jogando lixo dentro dos rios, como se fosse algo muito natural; vi pessoas construindo mais “casas” nas planícies de inundação do rio, vi árvores sendo cortadas das margens de um rio para darem lugar a paredes de concreto (e deixando os moradores felizes, pois o governo, enfim, estava fazendo uma obra para eles).
Após essa visitas, a música “Alagados”, dos Paralamas do Sucesso, não me saía mais da cabeça. Aqueles que sofrem, nessas áreas, com as inundações e doenças e que, de certa forma, contribuem mais ainda para a piora do cenário, ao praticarem atos como “jogar lixo no rio” são, no fundo, vítimas da falta de acesso à cultura. Não tenho dúvida de que se o morador soubesse todas as consequências de seus atos, e que se tivesse condições mínimas de vida (coleta e tratamento de lixo e esgoto, por exemplo), ele não mais praticaria atos que contribuíssem com o agravamento do cenário hoje ali presente.
É claro que é preciso investir em infra-estrutura de saneamento. Mas, mais que isso, é preciso educar nosso povo, dando-lhe a oportunidade de compreender as consequências de atos inapropriados.
“Alagados”, lançada em 1986, retratava a vida numa década em que o Brasil atravessava um momento difícil de crescimento. No entanto, a canção nunca deixou de estar atual. O mais triste de tudo é saber que estamos em 2012, que nosso país já sediou dois eventos em prol do Meio Ambiente (Eco 92 e Rio+20), está prestes a sediar outros, de grande importância mundial (Copa do Mundo – 2014 e Olimpíada – 2016) e tanto sua letra quanto as imagens que vemos eu seu clipe continuam muito parecidas com o que vemos nas ruas todos os dias…
Valeu Paralamas!