em Meio Ambiente, Qualidade da Água, Recursos Hídricos

No dia 28 de novembro de 2015, a BBC Brasil publicou a seguinte matéria: Tido como morto, Rio Doce “ressuscitará” em 5 meses, diz pesquisador. Tal reportagem trouxe o maior reboliço nas redes sociais e também na área acadêmica. Essa matéria foi baseada numa entrevista com o professor Paulo Cesar Rosman, do Programa da Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ, excelente professor e muito conhecido na sua área de atuação.

Confesso que quando li o título da matéria fiquei muito surpresa e abismada. Obviamente, isso não aconteceu só comigo. Rolaram várias discussões sobre a polêmica matéria e até acusações ao brilhante professor. Resolvi, então, ir diretamente à fonte. E no evento promovido PET da Engenharia Civil da UFRJ, perguntamos sobre a tal reportagem. Segue a resposta do professor:

 

… essa entrevista eu dei para a BBC, através do telefone, em um restaurante em Seatle (EUA). Aí expliquei para ele (repórter) que era muito difícil falar em Rio Doce, era uma coisa complexa. Você tinha três trechos muito diferentes. O trecho superior, onde houve um acidente, o trecho médio, onde tem três barragens, e o trecho inferior.

A grande preocupação do repórter era na parte do trecho inferior e repercutia um assunto sobre o dono da pousada, que estava preocupado que ia ficar sem surfista. Negócio dos pescadores para saber se seria efetiva a ação da barragem na foz. O pescador de Regência que estava preocupado com a morte do Rio Doce por 10 anos”.

Segundo Rosman, esse era o contexto da reportagem e, assim, sua resposta foi a seguinte: “Olha, a parte de baixo do Rio não é o problema. A parte de baixo do Rio, no fim da estação de cheia, estará razoável. Dá para ter condição de voltar à vida”.

Questionado quando isso iria acontecer, Rosman disse que em abril. O repórter fez as contas e concluiu que em 5 meses o rio voltaria a viver.

Mas Rosman comentou que não era bem assim. “Aí eu expliquei para ele, que a parte do trecho médio está com reservatório cheio de lama, que a parte superior foi destruída. Isso vai demorar anos”. Segundo o professor, o repórter não quis ecoar essa informação e sim confrontar.

570888-970x600-1Então, que o jornalista lhe perguntou como conciliar a explicação da recuperação em 5 meses com o que as pessoas estavam dizendo na época. Se o professor estava afirmando que não havia lama na parte inferior do Rio Doce. Rosman respondeu:

Temos que entender o que é lama. Lama pra mim é um negócio com consistência de um mingau. Uma coisa é lama, outra coisa é água barrenta. Lá na parte baixa do rio doce, na região de Colatina pra baixo, não é lama, é água meio barrenta. Lama é lá em cima, depois é água extremamente barrenta. É tecnicamente diferente. Nessa parte de baixo, você vai ter forte diluição, forte lavagem, ao longo de 4 a 5 meses de chuva. Terá uma condição do rio retornar à vida nessa parte.

Ou seja, o que o professor Rosman falou é bem diferente do que foi anunciado. Agora, todo o reboliço está esclarecido.

E assim, o debate continuou com mais algumas informações interessantes.

Quinze dias após a tal matéria, liga uma repórter da cidade de Colatina para o professor. Disse que estava entrando em contato, porque ele era o único que havia falado sobre a volta da vida naquela região antes de 10 anos. E que, portanto, ele havia acertado. Pois os moradores já estavam pescando e comendo os peixes e camarões do Rio Doce.

Imagem ilustrativa

O professor explicou, durante a sua apresentação, sobre a possibilidade da lama de rejeitos chegar a Abrolhos. Mas esse será assunto para um próximo post. Já adiantando, segundo o Rosman, o problema não está em Abrolhos e sim em Bento Rodrigues, onde milhares de metros cúbicos de lama estão depositados.

No final do debate, Roaman fez mais um comentário relacionado tal matéria “…eu recebi críticas avessas. Uma crítica falando que eu estava vendido pra Samarco. Outra crítica falando que eu estava fazendo o jogo da oposição, porque eu ia tirar a atenção desse assunto pra voltar para a lava jato (Risos da plateia)”.

Até a próxima!!!

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Mostrando 2 comentários
  • João Coimbra
    Responder

    Luiza, li o seu artigo sobre o uso de vegetação em encostas e pergunto se o aquafluxus faz avaliação de contenção de corte de encosta para construção de estrada?

    • Luiza Ribeiro
      Responder

      Bom tarde, João!

      A AquaFluxus é uma empresa de Consultoria Ambiental em Recursos Hídricos. Infelizmente, não realizamos esse tipo de estudo.

      Segue o portfólio da nossa empresa e para mais informações nosso site é: https://www.aquafluxus.com.br

      Att,

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