em Meio Ambiente, Qualidade da Água

Fonte da imagem de capa: http://meioambientenews.com.br/


Para começar o assunto de hoje, primeiro precisamos de um momento de imaginação. Eu sei que vai ser difícil, ainda mais depois do Matheus nos ter mostrado que mais de 23% dos domicílios urbanos não tem o esgoto ligado a uma rede de coleta e apenas 30% dos esgotos gerados no estado são realmente tratados, mas pense em uma cidade com um sistema de coleta e tratamento de esgoto perfeito, com 100% de cobertura. Essa cidade também tem o seu clássico sistema de drenagem funcionando “nos trinks”, ou seja, captando as águas superficiais e direcionando-as ao corpo hídrico receptor, por exemplo, um rio.

Será que assim conseguiríamos ter esse rio com uma água limpinha?

Para quem leu o texto “Depois da chuva…”, publicado aqui no Cidade das Águas em abril de 2012, saberá que, provavelmente, ainda existirão problemas na qualidade da água desse rio. Isso porque a água de drenagem que “lava” a superfície urbana, também é uma fonte de poluição das águas, pois carrega para os rios uma gama de poluentes que vai da matéria orgânica a metais pesados. Essa fonte de poluição recebe o nome de Poluição Difusa.

Esse assunto é muito importante e, aqui mesmo no blog, já foi abordado inúmeras vezes, como o alerta dado nos textos “Depois da chuva…”e “Praia lotada pode não ser sinônimo de água com boa qualidade”. Algumas possíveis soluções foram apresentadas nos textos “Muito além das flores…” e “Utilização de Wetlands no tratamento de água”. Para quem quiser se aprofundar mais, pode ler a Tese de Doutorado “Avaliação da Poluição Difusa Gerada por Enxurradas em Meio Urbano”, defendida pelo Professor Dr. Jorge Henrique Prodanoff.

Um dispositivo interessante para auxiliar no tratamento da água de chuva é associado com a própria paisagem urbana, simplesmente adaptando um canteiro de árvore para funcionar com uma caixa filtro. Daí vem seu nome em inglês: Tree Box Filter (TBF).

 

Basicamente, a TBF é composta por uma câmara de concreto, que pode ser dividida em dois compartimentos, um primeiro para receber a água pluvial que verterá para o segundo, que é preenchido com uma mistura específica de solos para biorretenção (Bioretention Soil Mix – BSM), onde é plantada uma árvore, contando, também, com uma tubulação drenante no fundo, responsável por direcionar a água para o sistema de drenagem.

Esquema da StormTree™

O Centro de Águas Pluviais da Universidade de New Hampshire desenvolveu um dispositivo similar, porém sem a divisão em câmaras, mas simplesmente deixando o canteiro um pouco mais baixo que a calçada, permitindo um acúmulo de cerca de 12cm de água, que infiltrará através da camada de BSM. Para chuvas mais fortes, existe um extravasor para levar o excesso de água direto para a rede.

Tree Box Filter – University of New Hampshire Stormwater Center

Outros dispositivos similares também utilizam a câmara única, como pode ser visto na sequência de imagens abaixo, que ilustra o processo de instalação de uma Tree Box Filter. As fotos não são de um mesmo dispositivo, são vários em diferentes fases de implantação…

A cidade acaba ganhando mais árvores, o que contribui para um ambiente mais ameno e saudável, e os rios ganham águas mais limpas.

Esses dispositivos já são bem utilizados nos EUA e na Europa e apesar de apresentarem bons resultados para melhoria de qualidade da água pluvial, não são bons para reduzir a quantidade de água. Se imaginarmos a implantação desses dispositivos aqui no Brasil, essa eficiência para combate às enchentes seria ainda menor , devido ao nosso alto índice pluviométrico nas épocas de chuvas. Porém, com alguma adaptação, acredito que poderíamos utilizar essa caixas em nossas cidades como auxiliares no controle do escoamento superficial, associando-as a diversos outras técnicas, como trincheiras de infiltração, calçadas com pavimentos permeáveis, pequenos reservatórios em praças, etc.

Essa adoção de técnicas multiusos, com especial atenção à integração ao espaço urbano, criando paisagens mais agradáveis e com capacidade de compensação dos impactos da urbanização no sistema hídrico, fazem parte da chamada Infraestrutura Verde, que vai muito além de prever mais grama nos jardins. É a busca por uma ocupação humana com menor estresse para o meio ambiente natural e com melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

Grande abraço.

 

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Mostrando 2 comentários
  • Lourdes Zunino Rosa
    Responder

    Muito bom! Quero fazer no meu condomínio e em todos os projetos novos q fizer.
    Nós da Inverde divulgamos infraestrutura verde e sustentabilidade urbana. Vcs executam, vamos ser parceiros!
    abs e até breve

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Oi Lourdes! Agradecemos o comentário!! Na AquaFluxus, elaboramos projetos de drenagem sustentável, buscando utilizar técnicas compensatórias para minimizar o impacto causado pela urbanização nos sistema hídrico. Vamos continuar conversando!

      Grande abraço

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