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Entra ano, sai ano, sempre nos deparamos com diversas notícias sobre chuvas acima e abaixo da média, transformando tais informações em acontecimentos extraordinários, e, como sempre, abrindo espaço para governantes (i) responsáveis pelos investimentos na área de combate/controle de cheias e secas, lançarem seu mais que batido discurso pós-catástrofe: “Mas choveu acima/abaixo do previsto na média histórica”, blábláblá…

Fevereiro termina com chuva abaixo da média em grande parte de MT 

Chuva supera média do mês e volta a causar transtorno

Em 19 dias, chove quase 100% do previsto para o mês em São Paulo

Chove acima da média prevista e clima favorece produção agrícola

Utilizar essa informação, comparando eventos de chuva com a média histórica, é, no mínimo, uma sacanagem, sendo utilizada como vaselina para desviar a atenção dos verdadeiros responsáveis pelas consequências das secas e enchentes.

Não existe uma solução definitiva para acabarmos de vez com as cheias e com as secas, mas assumir os riscos e investir em planejamento já têm resultados extraordinários para redução das perdas ocasionadas por enchentes ou falta d’água, que acontecem todo ano.

Para ilustrar isso, coloquei aqui um gráfico com o histórico de chuvas de um posto localizado aqui na serra fluminense, lá pros lados de Petrópolis, onde chove muito nos meses de verão. Neste gráfico estão apresentados os valores máximos e mínimos de chuva acumulada em cada mês, medidos ao longo de mais de 50 anos, assim como a média de chuva de cada mês.

Vendo isso, podemos observar como as chuvas variam muito, com valores que vão de 53,90mm até 486,20mm, se pegarmos o mês de janeiro como exemplo. Separando apenas o mês de janeiro, veremos essa variação ao longo dos anos e a média histórica do mês.

Agora fica mais fácil enxergar a malandragem que é colocar a culpa em São Pedro, depois que uma chuva alaga uma cidade ou um bairro, dizendo que esse ano, a chuva foi muito maior que a média… Pô, a média é apenas um indicativo para sabermos o quanto chove em algum local, mas é uma média e, como tal, será algumas vezes ultrapassada e não alcançada outras vezes.

Os projetos de controle de inundações, quando pensados para o sistema de macrodrenagem, por exemplo, são realizados para proteger uma área contra chuvas com tempo de recorrência de 25 anos, como abordado no texto “Quando as obras falham”, publicado aqui no Cidade das Águas.

A partir do estudo estatístico da série histórica de chuvas da região, o total precipitado durante 24 horas de temporal, daqueles bem violentos, que representa a chuva com tempo de recorrência de 25 anos, será de 143,45mm, valor igual a 65% da média esperada para todo o mês de janeiro. Ou seja, em um projeto de macrodrenagem bem feito, a proteção será capaz de suportar um volume de chuva igual a mais da metade de toda a chuva média do mês de janeiro (que é o mês mais chuvoso nesse local), caindo concentrada em 24 horas.

O clássico problema da média é apresentado com a história do cara que colocou a cabeça no forno e as pernas no freezer, depois pediu para o amigo medir a sua temperatura no umbigo! Resultado: temperatura média corporal 36°C… estado de saúde perfeito! Enquanto na realidade, o que temos é um sorvete de frieira e miolos assados, se é que esse cara tem miolo…

Assim como na política, nossa memória costuma ser bem curta para eventos climáticos e todo ano, no almoço, a gente fala e ouve algumas dessas frases: “Caramba, mas nunca vi chover desse jeito aqui…”; “Olha, rapá, não me lembro de ficar tanto tempo sem chover um diazinho.”; “Hoje é o dia mais quente da minha vida!”.

Vai dizer que você nunca falou nada disso?

Abraços

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Fonte da imagem de capa: http://sfagro.uol.com.br/

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