em Qualidade da Água, Recursos Hídricos

Foto de capa: Felipe Hanower/ O Globo. Disponível em https://oglobo.globo.com/rio/bairros/exame-comprova-contaminacao-da-agua-de-chuveirinhos-de-praias-da-zona-sul-3985142


Fim de semana de praia e sol no Rio de Janeiro e uma pergunta inquieta os banhistas: “Afinal as águas dos chuveirinhos estão próprias ou não para o banho?”. A reposta a essa pergunta não é tão simples como imaginamos e vamos explicar o porquê abaixo.

No mês passado, o site do jornal O Globo apresentou uma notícia que assustou os frequentadores das praias cariocas: “Exame comprova contaminação da água de chuveirinhos de praias da Zona Sul”. Nela, o jornal informou que todas as análises de qualidade de água, realizadas em 10 chuveirinhos da orla da zona sul do Rio de Janeiro, apresentaram indícios de contaminação por esgoto. Segundo o estudo, realizado por um laboratório contratado pelo jornal, nenhum dos índices checados na análise estavam adequados aos padrões estabelecidos pela Portaria n° 518 do Ministério da Saúde, responsável por estabelecer o padrão da qualidade de água para o consumo humano. Com isso, todos os chuveirinhos considerados estavam com as águas impróprias para consumo humano. Este fato causou o maior reboliço e muita discussão entre os órgãos fiscalizadores, a prefeitura e a sociedade.

Alguns dias depois, o site do jornal O Globo publicou outro resultado, de uma segunda análise dos chuveirinhos, desta vez realizado pelo INEA (Instituto Estadual do Ambiente). O resultado obtido, no entanto, divergiu do primeiro.

Foram analisadas as águas de 8 chuveiros das mesmas praias e nenhum, dessa vez, apresentou riscos à saúde. As amostras foram testadas para presença de coliformes termotolerantes (grupo que reúne bactérias de origem animal) e, especificamente, para incidência de bactérias do tipo Escherichia coli e do grupo enterococos, ambas de origem estritamente fecal e que podem causar diversas doenças, principalmente as gastrointestinais. Segundo o INEA, todas as amostras apresentaram concentrações abaixo do máximo permitido para o chamado uso recreativo (para limpeza do corpo e sem consumo direto, via oral).

De acordo com as resoluções do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), que classificam os corpos hídricos e estabelecem índices ambientais para cada um dos usos da água, não precisamos nos preocupar com os chuveirinhos, pois as águas apresentam excelente qualidade para uso recreativo.

 

Foto de Luciana Whitaker/Folhapress em noticias.uol.com.br. Disponível aqui.

Segundo essa mesma reportagem, alguns especialistas acreditam que as águas dos chuveirinhos devam ser classificadas como de uso recreativo de contato primário, que é aquele contato prolongado com a pele, mas sem consumo pela boca, como acontece com a água do mar. Como estamos tratando de uma água onde as pessoas apenas se banham, essa classificação parece ser plausível. A boa notícia é que usaram duas resoluções para fazer essa análise, uma mais restritiva e outra menos, e para ambas as águas do chuveirinho passaram no teste.

Podemos perceber que o problema não é só dos resultados das análises das águas, mas também de como classificar as águas dos chuveirinhos. Por isso, vamos apresentar a classificação dos recursos hídricos utilizada no Brasil.

Primeiramente, é válido explicar que cada um dos usos da água exige padrões diferentes de qualidade e são divididos em classes. Segundo a Resolução CONAMA 357 do ano de 2005, podemos classificar os recursos hídricos da seguinte maneira, de acordo com o uso que se dará:

  • Preservação do Equilíbrio Natural das Comunidades Aquáticas

– Água Doce: Classe Especial
– Água Salobra: Classe Especial
– Água Salina: Classe especial

  •  Proteção de Comunidades Aquáticas

– Água Doce: Classe 1
– Água Salobra: Classe 1
– Água Salina: Classe 1

  • Abastecimento para Consumo Humano com Desinfecção

– Água Doce: Classe especial

  • Abastecimento para Consumo Humano com Tratamento Simplificado

– Água Doce: Classe 1

  • Abastecimento para Consumo Humano com Tratamento Convencional

– Água Doce: Classe 2

  •  Recreação por contato primário

– Água Doce: Classe 1 e 2
– Água Salobra: Classe 1
– Água Salina: Classe1

  • Recreação por contato secundário

– Água Doce: Classe 3
– Água Salobra: Classe 2
– Água Salina: Classe 2

Existem outras classificações, como as de pesca amadora; irrigação de hortaliças, plantas frutíferas, parques e jardins; irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; aquicultura e atividade de pesca; dessedentação de animais; navegação; harmonia paisagística, dentre outras.

Percebemos que toda essa situação é resultado de uma confusão quanto à classificação do uso da água, alguns considerando a água do chuveirinho como sendo para Consumo Humano, outros como uso Recreativo de Contato Primário. Por isso, as exigências quanto aos padrões são bem diferentes, sendo a mesma água imprópria para um uso e própria para o outro.

A água da praia mais bonita, da ilha mais paradisíaca da Indonésia, que nunca teve contato significativo com nenhum detrito humano, com certeza não é própria para Consumo Humano, afinal nenhuma água salgada é própria para consumo humano. Da mesma forma, a água de um rio pode ser completamente imprópria para uso Recreativo, mas ser adequado para algum fim industrial (resfriamento de caldeiras, por exemplo).  A ideia dos diferentes usos é parecida com comida de cachorro, é imprópria para você comer mas não faz mal nenhum ao seu cachorro.

Como conselho, já que não foram definidos padrões e como e por quem será feita a fiscalização, cuidado ao se banharem nas águas dos chuveirinhos evitando sempre beber essa água.

 

 

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Mostrando 4 comentários
  • Fabiana
    Responder

    Como tudo no Brasil, passou um mês e nada de novidades. A mídia “saiu do assunto”. Por que as praias daqui estão quase sempre “marrons” e as do Caribe, por exemplo, estão sempre “azuis”? A história das algas, não me convence mais. Você vê algumas ilhas onde até as águas dos portos são clarinhas e dá para se ver os peixinhos nadando.

    • Luiza Ribeiro
      Responder

      É Fabiana como tudo no Brasil esse assunto foi esquecido… Na verdade eu não sei, mas acho que mais nada foi divulgado sobre o mesmo…

      Quanto a qualidade das águas das praias, eu sigo a orientação no site do INEA (http://www.inea.rj.gov.br/index/index.asp). Lá podemos ver se a situação está muito crítica ou não…

      beijos e obrigada por contribuir com o nosso blog!!!

  • Fabiana
    Responder

    Muito bom esse post. Eu estava me perguntando isso semana passada.

    • Luiza Ribeiro
      Responder

      Obrigada, Fabiana! Pois é…temos que nos preocupar com esses assuntos. Até porque, se as águas de algumas praias da Zona Sul estão quase 50% do tempo poluídas, acreditamos que o chuveirinho pode ser uma boa solução. Vamos esperar novidades sobre este caso.

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