Imagem de James Kim por Pixabay
Essa semana me fizeram uma pergunta que me fez parar para refletir…
“Por que não, simplesmente, cobrimos um rio que nos dá repulsa e nos incomoda?”
Crescemos acostumados a ver rios em estado degradado sendo usados como condutores de esgoto e lixo a céu aberto. Em alguns casos, são chamados, de forma pejorativa, de valão. (Leia o post “Rio ou Valão?” para se informar mais). Assim, nada mais natural do que querermos afastar ou terminar com algo que nos é desagradável. O rio Faria-Timbó é um exemplo dessa situação. Cruzando vários bairros do subúrbio carioca, esse rio tem graves problemas de poluição, assoreamento e está em um estado tal de degradação que nos faz esquecer que é um rio de verdade, e não um condutor de esgoto/lixo.
Sua nascente se encontra na Serra dos Pretos Forros, um dos setores do Maciço da Tijuca. Ali, nasce como rio Farias. Nas proximidades do bairro de Inhaúma, ele recebe as águas afluentes do rio Timbó, formando, assim, o Rio Faria-Timbó, que deságua no Canal do Cunha. A bacia hidrográfica do Rio Faria-Timbó tem cerca de 62 km² de área e perímetro aproximado de 37 km.
Próximo a sua nascente, o rio cruza áreas protegidas pelo Parque Nacional da Tijuca, que mantém uma rede complexa de canais, apresentando um forte controle estrutural que condiciona uma alta densidade de drenagem. No entanto, no médio e baixo curso do rio, a rede de drenagem não preserva qualquer traço das condições naturais, passando a correr em canais retificados completamente urbanizados.
Na bacia do Rio Faria-Timbó encontram-se alguns pontos críticos, sujeitos a inundações. Os principais agravantes das cheias, nesse caso, são:
- pontes e travessias subdimensionadas;
- seções de vazão insuficientes ou estranguladas;
- acúmulo de assoreamento ou resíduos sólidos;
- traçado inadequado ou curva acentuada.
No entanto, apesar de toda a degradação da bacia à qual este rio pertence, refletida no próprio rio, cobri-lo não fará com que os problemas se resolvam. O esgoto continuará sendo lançado no rio, os resíduos sólidos continuarão sendo carreados, continuarão existindo os problemas de assoreamento, mau cheiro e degradação de uma forma geral. Além do mais, a capacidade de condução do rio seria reduzida, o que pode aumentar a possibilidade de extravasamento à montante. Assim, cobrir o rio seria o mesmo que “esconder sujeira embaixo do tapete”.
O que fazer, então?
No post “A Difícil Arte de Requalificar um Rio Urbano” discutimos a recuperação de rios degradados em áreas urbanizadas, uma questão bastante desafiadora. Falamos que, nesses casos, para tornar a requalificação viável, é preciso integrá-la nos processos de planejamento urbanístico, permitindo a participação ativa de todos os interessados. Outro ponto importante é a recuperação da memória do rio entre os cidadãos, algo realmente difícil de se conseguir em casos de rios tão degradados há tanto tempo.
Um bom exemplo para citarmos aqui é o do rio Cheong Gye Cheon, em Seul, Coreia do Sul. O rio, que sofria de graves problemas de poluição, acabou sendo ocultado por uma avenida larga na década de 1960. Um elevado de 6km tornava o cenário ainda mais árido. A ruptura entre cidade e rio estava decretada.
Segundo informações que constam na página Cheongyecheon, da Wikipédia, dois professores da Universidade de Yonsei, presos em um congestionamento sobre o rio, observando o caos da região, lembravam os velhos tempos em que um deles se banhava naquelas águas, não mais visíveis. Assim, se perguntaram se era possível recuperar as condições que tinham anteriormente, muito mais agradáveis do que a situação daquele momento. A partir daí, surgiu a ideia que levaria a uma grande obra.
A partir de 2002, a região passou por intensa modificação, começando pela retirada do elevado e das avenidas que cobriam o rio. Foi o início de uma mudança radical…
Após 3 anos de obras, o contato com o rio voltou a ser possível e a população foi presenteada com a possibilidade de usufrui-lo para o lazer e contemplação. Ainda que o rio não tenha sido resgatado para seu estado original, a melhoria obtida com as intervenções foi enorme, proporcionando qualidade de vida muito melhor do que o que se tinha antes. Veja as fotos abaixo – é até difícil acreditar que são do mesmo lugar árido que vimos antes.
Lembra do nosso rio carioca, o Faria-Timbó? 😉
Ao invés de escondermos nossos rios, deveríamos pensar, antes, em como resgatá-los, aprendendo a conviver com eles. Seria uma experiência muito mais agradável.
Até o próximo post!
Além disso, Aline, o rio Faria-Timbó corta bairros e favelas que carecem de espaços públicos para o lazer. Com o resgate do rio, conjugado com essa proposta, os moradores, facilmente, iriam contribuir na manutenção e preservação, invés da degradação como acontece hoje. Palmas para Seul, mãos à obra no Rio.
Oi Leandro, obrigada pelo seu comentário. Para que uma ação desse porte tenha efeito é preciso, sem dúvida, que a população esteja integrada ao processo. Obrigada por visitar o blog Cidade das Águas.