Fala galera, tranquilidade? Já postamos aqui vários textos sobre recuperação ambiental de rios, considerando a Requalificação Fluvial como principal ferramenta para alcançarmos um estado de equilíbrio entre o ambiente construído e o natural. Mas hoje eu vou fazer o contrário e mostrar um passo a passo de como podemos arrasar um rio.
Passo 1
Escolha um rio legal, com uma nascente em uma área protegida, como uma Reserva Ecológica ou mesmo um Parque. Para começar, instale uma barragem de nível bem lá no meio da floresta, sem se preocupar com o equilíbrio das vazões sólidas naturais da bacia.
Passo 2
Descendo o rio, construa ruas em ambas as margens, um pouquinho afastadas e as deixe em solo batido, instalando muros de contenção onde a declividade for muito acentuada. Mas deixe a mata original crescer livremente.
Passo 3
Quando o terreno no entorno das margens do rio estiver mais plano, comece a ocupação. Construa casas e prédios ao longo das margens, facilitando a descarga de águas servidas e o lançamento de resíduos domésticos. Suprima a mata ciliar, mas não retire todas as árvores das margens, ainda.
Passo 4
Agora vamos lá, é a grande transformação. Retire todas as árvores das margens, abrindo espaço para a luz solar direta. Continue com as ocupações, densificando um pouco mais. Deixe bastante terra de obras e resíduos da construção civil próximos à calha do rio, para que possam ser carreados pela chuva. Para o rio, um tratamento especial, já que as árvores foram retiradas das margens, garanta sua estabilidade com gabiões verticais e deixe o fundo como está.
Passo 5
Agora já estamos mais perto do centro da cidade e o gabião vai pegar mal, né? Então, compre umas peças de concreto pré-moldadas, escave a calha do rio e as instale, concretando o fundo do rio também! Isso vai acelerar bem o escoamento e retirar mais rápido as águas das cheias dali…
Passo 6
Já no centro, esqueça o concreto, deixe a própria ocupação urbana confinar o rio no “lugar dele”, virando as costas para seu curso e aproveitando suas águas para transportar seus esgotos. Aqui, as paredes e muros dos prédios compõem as “margens” do canal. Ah, não se esqueça de ligar diretamente os caninhos dos banheiros no curso d’água…
Passo 7
Esse último passo não é obrigatório, beleza? Pois, acredito que o rio praticamente já deixou de ser um rio, né!? Você pode garantir sua péssima qualidade através de um serviço de saneamento deficiente e uma má educação ambiental da população. Normalmente, isso é tiro e queda! Mas bem, vamos lá, como último passo, para mostrar que a qualidade ambiental do rio realmente não importa, construa um Centro de Educação e Justiça Ambiental bem na margem desse rio, canal, valão, condutor de esgoto, sei lá o que isso se tornou…
Bom, espero que todos entendam que isso é apenas uma brincadeira para alertar sobre o descaso histórico que temos tratado nossos rios, que geralmente recebem exatamente esse tratamento que foi descrito ao longo desse texto. Olhe o rio urbano que você conhece e diga se não é a mesma história!
Quer começar a melhorar a qualidade de um rio? Então tá bom, primeiro passo: PARE DE FAZER BESTEIRA NO RIO. Para começar, isso já é muito bom… comece pelo NÃO! Não jogue mais esgoto no rio, não jogue mais lixo nas margens, não retire a cobertura vegetal (se ainda existir…).
É claro que rios urbanos são muito complexos e os aspectos de uma correta requalificação fluvial aplicada a eles, ainda está em fase de construção, com diversas pesquisas apontando as direções que devemos tomar. Espero que nossas cidades andem junto com nossos cientistas, talvez um pouco atrasadas, mas ao menos na mesma direção e sentido.
Abraços!
Quer saber mais sobre o assunto? Comece lendo no Cidade das Águas alguns textos publicados:
– Um belo exemplo de requalificação fluvial urbana na cidade olímpica de Londres
– Dona Eugênia: duas visões de um mesmo rio
– A Difícil Arte de Requalificar um Rio Urbano
– Os Manuais de Requalificação Fluvial do Brasil
– Outros Manuais de Requalificação Urbana
– RESTORE River Wiki – conhecendo casos de requalificação fluvial na Europa
Depois de tanta destruição, faltou esconder o rio, cobrindo-o e construindo uma rua ou talvez uma praça com um laguinho artificial!!!!
Que absurdo! Precisamos de uma conscientização ambiental urgente, caso contrário, o pouco que existe será destruído.
É verdade Rosi!!
O próximo passo certamente seria “enterrar” o rio… assim como fizeram com o Rio Carioca e vários outros aqui no Rio de Janeiro e em todo o mundo!!
Forte abraço!!