Todo novo empreendimento, em fase de projeto, que será localizado próximo a um corpo hídrico, deve realizar um estudo para definição da cota de arrasamento do terreno. Esse estudo pode ser exigido já na fase de licenciamento ambiental.
Mas, afinal, para que serve essa cota de arrasamento?
A cota de arrasamento é o nível mínimo que o terreno deverá ter para implantação de um empreendimento. O principal objetivo da definição da cota de arrasamento para novos empreendimentos é garantir a sua própria proteção contra eventos de inundações fluviais. Dessa forma, a cota mínima de construção do terreno deverá ser superior à cota máxima de nível d’água no rio, durante um evento de cheia com um risco pré-determinado.
Além da proteção contra inundações, a cota de arrasamento também vai garantir a possibilidade de escoamento das águas pluviais do empreendimento, através do seu sistema de drenagem.
Muito bom isso, mas como definir essa cota de arrasamento?
O primeiro passo é delimitar a bacia hidrográfica na qual o empreendimento será construído, indicando os corpos hídricos mais próximos ao seu terreno. Depois, devem ser levantadas informações que serão utilizadas no cálculo, que são, basicamente, a topografia do terreno na região e a batimetria do trecho do rio mais próximo à construção.
Reconhecida a bacia e de posse das informações topobatimétricas, deve ser realizado o cálculo dos níveis d’água de cheia do rio, identificando se há transbordamento de sua calha e, caso isso ocorra, qual será a altura de inundação em suas planícies marginais.
Os níveis d’água máximos serão calculados a partir da ocorrência de um evento hidrológico severo, podendo ser adotados tempos de recorrência entre 25 e 100 anos, de acordo com o nível de segurança exigido. Quanto maior a segurança, maior poderá ser o custo das obras de terraplanagem, pois as alturas de alagamento serão maiores.
Esse cálculo dos níveis d’água de cheia no rio pode ser feito por diversos métodos, com diferentes níveis de complexidade, desde simples equações da hidráulica básica até robustos modelos computacionais (saiba mais sobre modelos computacionais aqui). Pode-se também, definir essa cota de acordo com a maior cheia histórica do rio.
Tradicionalmente, a cota máxima de nível d’água no rio é estimada pelo método de cálculo de remanso. Essa metodologia é muito eficiente quando não há extravasamento da calha do rio. Porém, quando o nível d’água ultrapassa os limites da calha e passa a escoar sobre a planície, a curva de remanso tende a superestimar o nível d’água, pois a seção de escoamento estará limitada pela seção transversal do rio. Quando isso é feito, o nível d’água superestimado no rio é extrapolado para as margens, até encontrar o nível do terreno. Nesses casos, a opção é utilizar modelos que considerem o escoamento sobre as planícies, garantindo um resultado mais preciso, o que, no final, terá impacto sobre o custo de implantação do empreendimento, reduzindo a altura do aterro a ser realizado.
Aqui na AquaFluxus, utilizamos um modelo computacional, desenvolvido na UFRJ, para representar toda a bacia hidrográfica, inclusive as planícies marginais. Isso garante que os principais processos envolvidos na formação das cheias fluviais sejam considerados e, em consequência, que os resultados sejam mais realistas, permitindo uma grande economia em movimentação de terra para a construção!
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Grande abraço…
CARO OSVALDO MOURA REZENDE. Quando você se refere a “Superestimativa do nível d’água de cheia de um rio, resultante da não consideração de suas planícies marginais” acredito que você poderia rever esse conceito básico tendo em vista que uma obra hidráulica tipo dique ou aterro, poderá ser construído nas margens do rio e alterar essa cota significativamente.
Saudações.
Alexandre Bernacchi
Prezado Alexandre Bernacchi,
o conceito está absolutamente correto e não precisa de revisão. Quando é feita a estimativa de níveis d’água em corpos fluviais, a não consideração das planícies marginais trata o rio exatamente como se existisse um dique em sua margem, assim como o senhor mencionou. Dessa forma, esse confinamento resulta em um nível d’água mais alto na calha do rio, nível esse que será extrapolado para as planícies, superestimando as profundidades e a extensão da inundação. Com essa abordagem, comete-se um erro de balanço de massa, “criando-se” mais água do que existe no sistema. Esse erro era justificado quando não havia ferramentas computacionais capazes de simular todo o sistema fluvial, inclusive os processos hidrodinâmicos que ocorrem fora da calha principal do rio. Quando há extravasamento da calha, em muitos casos, a água pode tomar outro caminho qualquer e nem mesmo retornar ao eixo principal de drenagem, acarretando em um efeito de amortecimento e redução de volume dos escoamentos para jusante. A consideração dessas particularidades, obras de diques e aterros, certamente devem fazer parte da análise e o senhor está corretíssimo nesse ponto, pois essas intervenções no sistema fluvial alteram os padrões hidrodinâmicos das cheias!
Agradeço muito o feedback e a participação!
Um grande abraço
Boa a explicação. Gostei muito.
Valeu Raimundo, que bom que gostou… grande abraço.
Muito bom seu artigo.
Muito obrigado Andre! Abraço.
Muito bom o artigo.
Muito obrigado Danilo! Que bom que gostou…
Abraço