Quando pesquisamos sobre técnicas para a implantação da drenagem sustentável, encontraremos siglas como LID, SUDS, WSUD, BMP e IMP. A literatura técnica, às vezes, parece uma sopa de letrinhas…
Em meio a tantas opções, como podemos nos situar e decidir quais passos dar para desenvolver o nosso projeto de drenagem em acordo com técnicas sustentáveis?
No post de hoje trataremos do Desenvolvimento de Baixo Impacto, cujo termo em inglês é LID, ou Low Impact Development.
A urbanização é certamente uma das ações antrópicas que geram maiores impactos ambientais, com consequências diretas sobre o sistema de drenagem, através do agravamento das cheias, da redução das vazões de estiagem, da deterioração da qualidade da água e dos ecossistemas fluviais.
Proporcionar uma abordagem sustentável para os sistemas de drenagem se tornou um importante desafio.
Para compreender como o LID pode ser útil para isso, antes precisamos entender o que acontece com o ciclo hidrológico quanto há uma urbanização intensa em determinada área. A figura a seguir nos ajuda a compreender isso de uma forma mais simples: com a impermeabilização do solo, em decorrência da urbanização, há um aumento considerável no escoamento superficial (runoff), diminuição da infiltração (shallow e deep infiltration) e também da evapotranspiração (evapotranspiration). Traduzindo em miúdos: sobra mais água na superfície, o que pode causar as enchentes.
O projeto de um sistema de drenagem integrado com o desenvolvimento da cidade, buscando reduzir impactos sobre o ciclo hidrológico, atuando nos processos de infiltração e permitindo a detenção em reservatórios urbanos artificiais, juntando as preocupações, restrições e sinergias da Engenharia Hidráulica e do Urbanismo, aparece como uma opção fundamental para tratar as inundações urbanas.
É aí que entra o LID! O LID não é uma coisa pontual, uma solução pronta como uma receita de bolo. O LID é, na verdade, um conceito: ele considera o problema de forma integrada, tentando resgatar as características naturais do ciclo hidrológico, enquanto agregando valor à própria cidade.
O LID adota um conjunto de procedimentos que tentam compreender e reproduzir o comportamento hidrológico anterior à urbanização. Neste contexto, o uso de paisagens multifuncionais aparece como elementos úteis na malha urbana, de modo a permitir a recuperação das características de infiltração e detenção da bacia natural, procurando imitar as funções hidrológicas da bacia natural, envolvendo volume, vazão, recarga e tempos de concentração.
Para chegar a esse objetivo, é preciso lançar mão de técnicas como pavimentos permeáveis, trincheiras de infiltração, telhados verdes, jardins de chuva, aqui no Brasil conhecidas como Técnicas Compensatórias, já relatados no post 5 maneiras simples de melhorar o controle das enchentes urbanas.
E as técnicas compensatórias são a denominação brasileira do que, nos Estados Unidos, é conhecido por BMP ou IMP… A tal sopa de letrinhas, no fim das contas, está toda interligada e tudo faz sentido… Mas isso é assunto para um próximo post.
Em tempo: as siglas mencionadas no início deste post significam:
- LID: Low Impact Development
- SUDS: Sustainable Urban Design System
- WSUD: Water Sensitive Urban Design
- BMP: Best Management Practices
- IMP: Integrated Management Practices
Para quem quiser encontrar maiores informações sobre este assunto, indicamos os sites a seguir:
http://www.lowimpactdevelopment.org/
http://www.epa.gov/owow/NPS/lid/
O livro Drainage Systems possui um capítulo que trata não só do LID, mas dos outros conceitos citados no início do post, mostrando o que é cada um deles e como estão relacionados. O download é gratuito a partir do site da editora Intech. O capítulo em questão tem o título Sustainable Drainage Systems: an Integrated Approach, Combining Hydraulic Engineering Design, Urban Land Control and River Revitalisation Aspects.
A captura de água da chuva para uso doméstico, comercial etc tem alguma relação com esse conceito?
Oi Daniel,
Boa a sua pergunta!
O Desenvolvimento de Baixo Impacto, ou LID, é um conceito de desenvolvimento urbano com menor interferência sobre o ciclo hidrológico. Assim, pode-se dizer que ele não está diretamente associado com o aproveitamento da água de chuva. No entanto, com a introdução de medidas de armazenamento, são criadas oportunidades de aproveitamento deste recurso.
Por fim, vale a pena ressaltar que é importante termos em mente que a conjugação de vários esforços leva à sustentabilidade.
Um abraço, Aline.