É cada vez maior a preocupação com a preservação de recursos hídricos e energéticos, uma vez que os impactos decorrentes do contínuo uso desses recursos, sem que seja realizada uma gestão adequada, crescem a cada dia. Que tal pensar, então, em conservar água e energia simultaneamente? Esforços para conservar água e energia são complementares e sinérgicos, principalmente no caso de Sistemas de Abastecimento de Água (SAA), tema do post de hoje.
Para que a água chegue à sua residência, ela passa por uma série de etapas, desde a captação no manancial. Em praticamente todas essas etapas, há o consumo de energia.
Veja no esquema abaixo as principais etapas de um SAA. A água é captada, geralmente com o uso de bombas, e é transportada até uma Estação de Tratamento de Água (ETA) pela adutora de água bruta. Na ETA, ela passa por diversas etapas de tratamento, podendo ser encaminhada, por meio da adutora de água tratada, para um reservatório quando, por fim, é distribuída à população. Todas essas etapas demandam alguma energia para que funcionem adequadamente.
De acordo com o livro Uso Racional de Água e Energia, produto do Prosab 5 – Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (financiado pela FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos), uma faixa de 2-3% do consumo nacional de eletricidade é devido ao setor de abastecimento de água e tratamento de esgotos. Desses, 90-95% correspondem ao uso de motores e bombas. Além disso, uma média de 40% do volume total de água produzido é perdido, tanto devido a perdas físicas (perda da água ao longo da distribuição, em função do mal estado de conservação das adutoras, por exemplo), quanto por perdas aparentes (perda da água por motivo de fraude ou de defeito nos medidores, por exemplo). No Rio de Janeiro, essa taxa é da ordem de 50%.
Esses números são alarmantes. E se tornam ainda mais quando pensamos que para cada percentual de perda de água de abastecimento ainda é preciso considerar a energia gasta para produzi-la.
É fácil, então, perceber que o consumo de energia elétrica está diretamente associado à quantidade de água consumida pela cidade. Por esse motivo, as atividades implementadas para economizar água e energia terão melhores resultados se planejadas conjuntamente.
Como fazer isso, então?
A sustentabilidade ambiental do saneamento básico pressupõe uma mudança dos conceitos e práticas hoje vigentes. Os ganhos de eficiência no uso da água e da energia a ela associada podem integrar metas atuais e futuras de desenvolvimento do setor de saneamento, tendo como foco tanto a parte pública dos sistemas de abastecimento como as edificações de uma forma geral.
Pensando nas edificações, podemos citar como exemplos o aproveitamento de água de chuva e o reuso de águas cinzas (águas provenientes de lavatório, chuveiro, tanque e máquina de lavar roupas), que podem ampliar as possibilidades de otimização do consumo de água com economia de energia.
Além disso, outro tema já tratado aqui e que também visa à otimização do recurso “água” é a cobrança individual em condomínios. No post “Cobrança Individual – Economizando Água e Dinheiro“, falamos sobre a economia na conta de água quando esta é individualizada e também sobre a criação de leis que regulamentam este tipo de medição.
Já em nível de sistema de abastecimento público, é preciso refletir sobre o fato de que as perdas e desperdícios representam custos para os usuários e para a sociedade sem aportar benefícios. Portanto, sua eliminação ou redução a níveis razoáveis resulta em consideráveis benefícios ambientais e econômicos.
Para diminuir as perdas, é preciso que haja uma maior fiscalização para eliminar possíveis fraudes (ligações irregulares na rede abastecimento), uma grande revisão nos medidores de água, corrigindo ou trocando, se necessário, aqueles que estiverem avariados, além de maior cuidado com a manutenção da rede de uma forma geral, de modo a diminuir a taxa de perdas.
Assim como os serviços de ônibus, trem, metrô e barcas, o abastecimento de água é um serviço público, no qual as empresas de saneamento detêm apenas a concessão do serviço. Tal como no transporte público, devemos cobrar – e contribuir – para que o abastecimento de água seja o mais eficiente e o mais barato possível. Em ambos os casos o meio ambiente e os nossos bolsos agradecem.