As técnicas de drenagem são utilizadas pelos humanos há muito e muito tempo. Os Sumérios, responsáveis por um grande salto no desenvolvimento da agricultura em maior escala, já utilizavam a drenagem como um componente do sistema de irrigação de suas áreas cultivadas. Posteriormente, já durante o séc. VI a.C., os Romanos utilizavam a drenagem para secar terrenos alagados ou com nível d’água subterrâneo muito alto, com o objetivo de expandir as áreas urbanas. Em uma das áreas beneficiadas por um desses projetos de dessecamento de alagadiços foi construído o Fórum Romano.
As principais funções da drenagem eram escoar o excesso de água captada para irrigação e secar áreas estratégicas para expansão urbana, além, é claro, de drenar a própria cidade. Agora, percebi que a drenagem quase foi utilizada para roubar riquezas de outro país, pelos antigos colonizadores europeus, em seus grandes saques no novo mundo. No último domingo, em uma viagem à Colômbia para participação de uma investigação internacional, acabei conhecendo melhor a lenda da cidade perdida do El Dorado e até tentei visitar o lago em que a lenda se originou, sem muito sucesso devido a uma forte chuva que nos alcançou já na estrada. O nome do lago é Laguna de Guatavita e fica próxima a cidade de Bogotá.
A lenda possui várias versões, mas a mais conhecida é a de que um dos rituais do reino indígena Chibcha envolvia o recobrimento de seu cacique por uma mistura pegajosa e cobertura por pó de ouro, daí viria o significado de El Dorado: “aquele que é recoberto de ouro”. Nessa cerimônia, o Cacique, coberto de ouro, navegava em uma balsa repleta de oferendas feita também em ouro e com pedras preciosas. No centro da lagoa, as oferendas eras jogadas na água e o Cacique se banhava até que todo o ouro fosse lavado de sua pele, em adoração à deusa da água Chie.
Tendo conhecimento dessa história, diversas missões foram realizadas para encontrar o ouro submerso na Lagoa Guatavita, pelos Espanhóis, os quais, apesar de nunca terem obtido sucesso na busca da cidade de ouro, muitas toneladas dessa maravilha conseguiram transportar para a Europa. Um dos tesouros mais conhecidos é a representação em ouro do momento em que os indígenas navegavam pelas águas da Lagoa com suas oferendas.
Alguns dos planos para conseguir acessar o tesouro envolviam a drenagem de toda a laguna, deixando descoberto o ouro dos deuses. Graças aos altos custos envolvidos nesse projeto, a laguna permanece lá, com sua maravilhosa e majestosa vista disponível para que possamos apreciá-la, contemplando o que de maior valor ela possui: a sua própria existência.
E assim espero que continue, pois fiquei devendo uma visita para conhecê-la! O povo Chibcha agradece…
Abraços.