em Meio Ambiente, Políticas públicas, Qualidade da Água

Está aí um tema polêmico. Imagina-se que ninguém gosta da ideia de lançar nosso esgoto no mar, mas então, por que existem tantos emissários submarinos de esgoto?

A primeira vista o emissário pode parecer “varrer a sujeira para baixo do tapete”, mas existem princípios por trás do emissário que tornam seu uso muito eficiente, desde que ele seja bem dimensionado, acompanhados de uma boa rede de coleta e de um pré-tratamento eficiente.

Imagem do píer de construção do emissário submarino de Rio das Ostras – RJ

O consumo de água de uma pessoa pode variar entre 100 e 200 litros por dia. Podemos supor que aproximadamente 80% desta água vai para a rede de esgoto, logo temos uma produção de aproximadamente 80 a 160 litros de esgoto por pessoa por dia. Pode parecer pouco a primeira vista, mas em uma cidade grande, com a população crescendo a cada ano, esse número pequeno torna-se um grande problema. Ficamos com um grande volume de esgoto “nas mãos.”! O que fazer com ele?

Definir o tratamento e a destinação final dos nossos dejetos passa a ser uma decisão complicada com um volume tão grande de esgoto. E a solução dada, deve atender às nossas necessidades (com duplo sentido) hoje e prever o crescimento da população no futuro, ou seja, o projeto deve ter uma vida útil compatível com o investimento feito.

Aí entra o emissário submarino. Após devidamente tratado, o esgoto é lançado no mar.

Explicando brevemente os processos que ocorrem no emissário:

  • O emissário está localizado no fundo do mar. (Aproximadamente 20 m de profundidade.)
  • O esgoto saí a uma velocidade alta dos difusores (vários buraquinhos) presentes no trecho final do Emissário.
  • A diferença entre a velocidade do esgoto e das correntes no local promovem uma mistura da água do mar com o esgoto. Diluindo localmente o esgoto.
  • Algumas bactérias presentes no esgoto são sensíveis à água salgada do mar e morrem.
  • O esgoto é menos denso que a água do mar, e, portanto, tende a boiar.
  • O esgoto, já parcialmente diluído, atinge a superfície da água do mar.
  • Algumas bactérias presentes no esgoto são sensíveis aos raios ultravioleta (raios solares) que penetram a água e morrem.
  • Correntes de maré, ondas e correntes geradas pelo vento, promovem uma maior diluição.
  • A distancia da saída do emissário até a praia é calculada para que o esgoto não chegue à praia antes de estar completamente diluído.

Visto desta forma o emissário pode ser considerado um eficiente método de tratamento de esgotos, mas deve ser acompanhado de alguns cuidados:

  • O tratamento prévio foi realizado?
  • A localização do emissário é ideal? Evita que o esgoto chegue às praias e afete a balneabilidade? Na animação abaixo vemos onde a mancha das bactérias do esgoto chega antes de ser completamente morta e/ou diluída!

Exemplo de Resultado de Modelo Computacional do Emissário de Rio das Ostras – RJ

  • Será realizado algum monitoramento do funcionamento do emissário?
  • O que está acontecendo à fauna e flora local após a construção do Emissário?

A modelagem computacional pode ajudar a responder algumas destas perguntas. Simular o comportamento de um emissário antes de sua construção pode auxiliar a tornar o projeto mais eficiente. Mas o tópico Modelagem Computacional de Corpos d’Água fica para outro Post.

Além disso, é claro que o emissário submarino de esgoto só terá sentido se a rede de coleta de esgoto abranger a cidade inteira e se não houver ligações de esgoto clandestinas na rede de drenagem pluvial.

Por fim, vale a pena ressaltar que um fator importante a ser analisado quando se escolhe o local de lançamento do esgoto que produzimos é saber quais são as opções disponíveis. Retirar completamente a matéria orgânica do esgoto e encaminhá-la um aterro sanitário, para se lançar água “pura” no corpo receptor (rio, mar, etc…) é economicamente inviável (principalmente em um país com dividas sociais e ambientais muito mais graves, como o Brasil). Pedir que as pessoas parem de ir ao banheiro também não seria eficiente.

Olhando de uma maneira bem pragmática (e aqui estamos bancando o advogado do diabo), acaba que em muitas cidades litorâneas a questão é: lançar o esgoto com um tratamento preliminar num emissário submarino longe da costa ou dar um tratamento melhor, porém mais caro e complexo, para poder lançá-lo em algum lugar mais próximo. Enquanto ambientalistas e autoridades nada decidem, nossas praias vão recebendo esgoto in natura.

 

 

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Mostrando 14 comentários
  • vitoria gata
    Responder

    esgotos poluid0 nao da polui rios e causa enchentes

  • cristiane lopes
    Responder

    Adorei o texto.
    Prezado Oswaldo já busquei a informação que preciso em diversos locais tais como CEDAE, Alerj, entre outros, sem obter êxito.
    Agora faço nova tentativa buscando o que preciso com vc, considerando sua experiência na área.
    Preciso saber se a ETE de Alegria no Rio de janeiro recebe esgoto industrial misturado a agua do mar, caso negativo qual a legislação que o proíbe?
    Desculpa mas ja nao sei a quem recorrer, se tiver alguma indicação pode me enviar por e-mail.

    Desde já agradeço.

    Att.

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Olá Cristiane, obrigado! Me desculpe, mas realmente não sei lhe responder isso. Coletar informações com a CEDAE costuma ser bem difícil mesmo, contrariando a Lei de Acesso a Informação, sugiro que continue tentando, pois é direito de qualquer cidadão.

      Um abraço

  • luciano daniel
    Responder

    Amigo, apenas corrigindo que não se usa a palavra esgoto após o tratamento, e sim efluente tratado no qual é encaminhado para o Emissário Submarino de Esgoto Tratado, entendendo que texto relata a ETE. No mais o texto ta jóia!

    • Osvaldo Moura Rezende
      Responder

      Olá Luciano! Obrigado pela dica, mas a palavra esgoto pode ser usada para “qualquer abertura ou encanamento por onde se esgotam líquidos”, sejam quais forem esses líquidos. Um exemplo muito claro disso, é o “esgoto pluvial”, expressão pouco utilizada, mas correta para definir as águas de chuva.

      Em uma busca rápida encontrei um Dicionário de Termos Técnicos Ambientais, no qual o termo esgoto é definido como “refugo líquido que deve ser conduzido a um destino final”. Em nosso caso, o destino final do “esgoto” é o mar…

      Grande abraço.

  • Marcos Côrtes Costa
    Responder

    O material orgânico deveria ser separado e encaminhado para biodigestores produzindo renda com fertilizantes e biogás. Esta seria uma alternativa econômica para a solução do problema.

  • Thaís Paula
    Responder

    Excelente.

  • Cássio Pacheco
    Responder

    Parabéns pelo post! muito interessante!

  • Rodrigo Amaro
    Responder

    Cara, vcs tão mandando bem!!
    Só falta um Biólogo na empresa…

    • Matheus
      Responder

      Ao menos assim que precisarmos de um biólogo já sabemos onde procurar!

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