Foto de capa: Catálogo da exposição, Ferrovia Madeira-Mamoré: Trilhos e Sonhos – Fotografias BNDES e Museu Paulista da USP. Cortesia: Carlos E. Campanhã (https://goo.gl/jVAhZv)
O planejamento sistemático do desenvolvimento das cidades ainda não entrou na veia do poder público brasileiro, ainda que assegurado por uma série de legislações. Na corrida para acessar recursos da União, muitos municípios “encomendaram” seus planos urbanos com urgência, como temos visto acontecer com os planos diretores e os planos municipais de saneamento. Toda essa pressa, muitas vezes, resulta em planos com baixa qualidade técnica e sem aplicabilidade prática. Uma importante ferramenta para o planejamento da infraestrutura, o mapeamento de áreas de risco por exemplo, é sempre deixada de lado, como meio de redução de custos na elaboração dos estudos que subsidiam parte da tomada de decisão do planejamento.
Não apenas entidades públicas pecam ao não considerar o risco no planejamento, como muitos entes privados deixam de lado os estudos para o gerenciamento do risco na fase de planejamento de seus empreendimentos. Uma economia que pode custar muito caro ao longo da vida útil de operação do empreendimento.
Podemos citar como exemplo uma grande mineradora ou grupos agro, que precisam planejar seus sistemas de transporte. Ao contratar os estudos para definição do traçado das linhas de transporte, muitas vezes em modal ferroviário, o percurso atende ao menor custo-benefício, sem antever situações de alto risco, como grandes inundações. Assim, com alguma frequência, esses negócios poderão ser paralisados por eventos de enchentes, que podem interromper provisoriamente o eixo de transporte, gerando prejuízos pela paralisação e com potencial de causar danos estruturais à ferrovia.
O mapeamento das áreas propensas a inundações pode ser realizado de forma a apresentar a probabilidade de ocorrência de alagamentos de diferentes áreas. De posse desse mapa, a tomada de decisão sobre o traçado final da via poderá ser realizada de forma mais racional, considerando possíveis impactos futuros, mensuráveis e monetarizados.
Essa mesma lógica se aplica a qualquer grande empreendimento, mesmo para grandes ocupações habitacionais, as quais deveriam obrigatoriamente apresentar, antes da definição do local de implantação, um estudo de segurança contra inundações. Esta obrigatoriedade poderia reduzir em muito os danos e prejuízos que assistimos todos os anos, com grandes inundações atingindo condomínios residenciais, mesmo os mais novos. Os resultados do mapeamento de risco devem ser utilizados para um melhor zoneamento urbano.
No caso de empreendimentos industriais, o mapeamento do risco de inundações pode subsidiar tanto o plano de contingência da planta industrial, quanto a hierarquização de ocupação da área, protegendo, assim, as facilidades de maior valor. Essa importância aos estudos do risco já foram percebidas em diversos países, que utilizam esse mapeamento para o mercado de seguros, como a ferramenta apresentada no nosso último texto “Mapeamento de Risco para Seguradoras“.
Em alguns casos, o mapeamento do risco foi realizado, mas podem ser antigos e não contemplar possíveis alterações nos padrões climáticos regionais. Dessa forma, mesmo redes de infraestrutura bem planejadas no passado, necessitam de uma boa revisão em seus parâmetros de projeto. Tais estudos de revisão são muito importante também para avaliação de impactos potenciais das mudanças climáticas em estruturas hidráulicas de drenagem em infraestruturas de transporte. Importantes eixos logísticos podem estar vulneráveis às alterações do clima, expostos a danos potenciais de chuvas de maior magnitude não previstas na época do dimensionamento das pontes e bueiros.
Em nossas interações com o grupo de pesquisa do Laboratório de Hidráulica Computacional da COPPE/UFRJ, temos dedicado esforços em melhorar os processos de mapeamento dos riscos de inundações, com uso de índices e indicadores. Tais ferramentas podem ser utilizadas desde a fase de planejamento, com uma abordagem menos detalhada, utilizando apenas dados fisiográficos da bacia. A partir disso, podem ser agregadas informações sobre o processo de inundação, associando probabilidades de atingimento em um determinado horizonte de tempo.
Já tivemos ótimos resultados, como ferramentas de mapeamento do risco de ocorrência de enxurrada em rios de áreas montanhosas, propensão do meio físico a inundações, risco de cheias e resiliência a inundações em bacias urbanas, que agrega um conjunto de subínidces e indicadores, representando desde parcelas socioeconômicas do risco de inundação, até risco do sistema de mobilidade urbana.
Tais ferramentas podem ser utilizadas para subsidiar planos diretores urbanos e planejamento de redes de infraestrutura de grandes negócios.
A ideia é que, cada vez mais, ferramentas facilitem e melhorem o processo de planejamento, tanto das cidades, como de empreendimentos privados, tendo como consequência, a redução dos danos e prejuízos associados aos eventos de inundações.
Abraços