em Meio Ambiente, Políticas públicas

Michael Crichton (1942-2008),  foi um dos mais famosos escritores norte-americanos no final do século passado. Ficou famoso por ter seus livros adaptados para o cinema, por ser o criador da série de TV ER e por defender algumas ideias polemicas. Em Setembro de 2003 o escritor pronunciou um discurso no Commonwealth Club , San Francisco, intitulado “Environmentalism as religion” em que apresenta a ideia de que o movimento ambientalista se comporta como uma religião:

(…)Se você olhar atentamente, verá que o ambientalismo é na verdade um remapeamento dos mitos e crenças tradicionais judaico-cristãos para o século XXI.
Há um Éden inicial, um paraíso, um estado de graça e unidade com a natureza, há a queda da graça a um estado de poluição por comer da árvore do conhecimento, e como resultado de nossas ações haverá um dia do julgamento para nós. Somos todos pecadores energéticos, fadados à maldição da morte, a não ser que busquemos a salvação, que é chamada hoje de sustentabilidade. A sustentabilidade é a salvação na igreja do meio-ambiente. Tal qual a comida orgânica é a comunhão, a hóstia sem pesticidas que as pessoas certas, com as crenças certas, põem à boca.
Éden, a decadência do homem, a perda da graça, o juízo final — estas são profundas estruturas míticas. São crenças profundamente conservadoras. Elas podem estar bem sedimentadas na cabeça das pessoas, eu sei disso. Eu certamente não quero que as pessoas largem mão delas, do mesmo modo que não quero que elas desacreditem que Jesus Cristo é o filho de Deus que ressuscitou.  Mas a razão pela qual eu não quero dizer para que elas desistam destas crenças é que eu sei que não se pode dizer isto. Não são fatos que podem ser discutidos. São uma questão de fé.
Assim é, infelizmente, com o ambientalismo. Por mais incrível que pareça os fatos não são necessários, porque os princípios do ambientalismo são uma questão de fé. É tudo uma questão de ser um pecador ou de ser salvo, de estar do lado da salvação ou do lado da danação. É uma questão de se você será um de nós, ou um deles.

O discurso segue de maneira interessante (pode ser lido aqui), apesar do escritor dar umas escorregadas quando fala de política e apresentar algumas citações cientificas que podem ser questionadas. A ideia de que a o movimento ambientalista se comporta como uma religião já foi tema de alguns posts (“Ecologia, A Religião do Futuro” e “A Ecologia do Medo“) e é muito importante porque, nas palavras do próprio Crichton, ” precisamos de um movimento ambientalista, e tal movimento não é muito efetivo se é conduzido como uma religião”.

Por fim, cabe ressaltar que Crichton aponta para um problema real em relação a esse tema, mas em suas obras ele nunca foi uma unanimidade. Durante sua carreira como escritor muitos dos seus livros foram criticados por parecerem  mais roteiros inacabados do que obras literárias, por serem cientificamente superficiais e ideologicamente conservadores.

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Fonte da imagem de capa: https://cdn1.thr.com/

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Mostrando 2 comentários
  • Manuela
    Responder

    Gostei muito! Lembrei do meu primeiro período de Ciências Sociais na UFF em 2003… Na ocasião, o professor nos recomendou o livro “O MITO MODERNO DA NATUREZA INTOCADA” do Diegues… acho que trata de questões parecidas com as abordadas aqui!

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