Foto de capa: https://pt.wikipedia.org/
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Estamos sempre escrevendo sobre a importância de bons projetos para o controle de inundações, que considerem a dinâmica da bacia hidrográfica e as inter-relações entre as diversas infraestruturas da cidade, dentro de um planejamento urbano com uma concepção holística de toda a urbe.
Muitos são os casos em que milhares e até milhões de dólares são investidos em “soluções” estruturais para problemas de inundações que, com o passar do tempo, perdem sua eficácia e demandam novas intervenções, por diferentes motivos, como falta de manutenção e de planejamento urbano.
Um caso clássico desse problema é o caso da Barragem de Gericinó, na Baixada Fluminense. Construída após a grande cheia de 1988, que causou muita destruição no Rio de Janeiro, foi projetada como uma medida emergencial dentro do Programa Reconstrução Rio, com financiamento do Banco Mundial e da Caixa Econômica Federal, priorizando obras de macrodrenagem e um valor total de US$ 130 milhões (valor de 1994, sem correções).
A barragem foi construída em uma área do Exército, conhecida como Campo do Gericinó, utilizada para exercícios militares. Inicialmente pensada para amortecer as cheias do Rio Sarapuí, a barragem foi estendida para amortecer também as cheias da bacia do Rio Pavuna. Pelas informações de projeto, a barragem poderia amortecer uma cheia decorrente de um evento pluviométrico de 20 anos de tempo de recorrência para 19% da vazão antes da barragem. Em números: sem a barragem essa cheia teria um pico de vazão de 171m³/s, que, após a barragem, seria de 32m³/s, reduzindo os níveis d’água no Rio Sarapuí em até 3 metros no trecho logo a jusante da barragem, no município de Nilópolis.
Com toda essa eficiência, foi gerada na população uma grande sensação de segurança, que, com aval e incentivo da administração pública, começou a se aproximar cada vez mais do leito do rio. O resultado disso é um canal altamente degradado, com forte ocupação de suas margens e alto risco de inundações.
Na revisão do Projeto Iguaçu, elaborado pela COPPE em 2008/2009, que originalmente foi elaborado em 1994/1995, a preservação de áreas estratégicas para o controle de inundações foi assumida como essencial e foi recomendada a formação de uma série de Áreas de Proteção Ambiental para evitar a ocupação dessas áreas, uma vez que já havia tendências que apontavam para a expansão das cidades para dentro da área do Campo de Gericinó, o que reduziria o volume do reservatório e, assim, sua eficiência para o controle de inundações na bacia. Então, foi indicada a expansão da APA Gericinó-Mendanha, abrangendo toda a área do Campo de Gericinó.
A existência do reservatório de Gericinó é imprescindível para o controle de cheias da bacia do Rio Sarapuí e, por isso, é necessária a preservação de sua área. O correto funcionamento da barragem aliado a uma série de intervenções na bacia e medidas não estruturais, como a criação das APA’s, do mapeamento das inundações e de sistema de alerta, serão capazes de reduzir muito a ocorrência de inundações na Baixada. Mas, sem um planejamento urbano sério, apoiado em uma fiscalização contínua da ocupação do solo urbano, todo o esforço pode ir por água abaixo, literalmente.
Abraços…