Recentemente, fui questionado sobre o conceito de hidrogenética das bacias hidrográficas. Como realmente ainda não havia ouvido falar nada sobre o assunto, fui procurar saber um pouco mais. Na primeira busca, a maior parte dos resultados remeteram ao manejo de bacias hidrográficas, tema muito importante e oportuno, nesse momento que discutimos tanto para descobrir de quem é a culpa da escassez hídrica vivida nos últimos anos no sudeste do Brasil.
Primeiro, o que vem a ser o Manejo de Bacias Hidrográficas?
Há uma simplificação do termo que apresenta o manejo de uma bacia como um plano de ações para proteção das áreas de floresta nas encostas, com o objetivo de garantir os processos de “produção de água”. Porém, os objetivos de um plano de manejo de bacia devem ir muito além da preservação das florestas, que passa a ser uma das diversas ações potenciais para se alcançar um bom equilíbrio entre os usos potencias da bacia e sua saúde ecológica.
Para o autor Brooks (1991) (1):
“O manejo de bacias hidrográficas pode ser definido como o processo de organizar e orientar o uso da terra e de outros recursos naturais numa bacia hidrográfica, a fim de produzir bens e serviços, sem destruir ou afetar adversamente o solo e a água.”
Assim, o conceito ganha muito mais força e uma relevante importância para a própria gestão do espaço, tanto em áreas rurais, como em aglomerados urbanos. O manejo da bacia irá sugerir as principais ações para reduzir os impactos das alterações na cobertura do solo provocados pela ocupação antrópica do ambiente natural. São, habitualmente, aplicados à gestão de micro-bacias hidrográficas.
Como princípio, o manejo parte do reconhecimento que ações antrópicas na bacia terão consequências no seu equilíbrio ecológico, como a estabilidade dos solos e o comportamento hídrico. Outra definição, adotada no Brasil, mais ampla, é:
Em uma apresentação encontrada na rede, assinada pelo Professor Gildomar, o objetivo geral do manejo de bacias hidrográfica é “melhorar as condições da bacia, promovendo o correto manejo dos recursos naturais a partir do uso adequado do solo, da manutenção de cobertura vegetal adequada, do controle da poluição, da regulamentação do uso da água, e até mesmo da construção de obras hidráulicas necessárias.”
As diversas ações para atingir esses objetivos devem ser previstas em um plano, voltado para uma determinada bacia, assumida como unidade de planejamento. Ainda não entendo como essa forma de planejamento territorial, adotando-se a bacia como referência, ainda não virou obrigatória! As ações podem ser compostas por intervenções hidráulicas, programas de reflorestamento, implementação de áreas de proteção ambiental e de dispositivos de regulação do uso do solo.
As zonas hidrogenéticas das bacias hidrográficas
Para facilitar a concepção e a organização das diversas ações possíveis para o manejo da bacia, o seu território é dividido em três regiões de comportamento similar, conhecidas como zonas hidrogenéticas, as quais são:
I – ZONA DE CAPTAÇÃO (REFORÇO DE UMIDADE)
São as áreas mais altas da bacia, suas cabeceiras. Possuem grandes processos de retenção e infiltração das águas pluviais, tendo, assim, grande responsabilidade na recarga das águas subterrâneas.
II – ZONA DE TRANSMISSÃO (DINÂMICA OU EROSÃO)
Ficam logo abaixo das cabeceiras e apresentam declividades mais elevadas, característica que lhe conferem uma maior tendência aos processos erosivos, contribuindo, então, para as vazões sólidas dos rios. É observada uma maior presença de processos de escoamento superficial.
III – ZONA DE AFLORAMENTO (SEDIMENTAÇÃO)
Localizadas nas áreas mais planas das bacias, tendem a apresentar uma maior deposição de sedimentos. Possuem maiores planícies de inundação, que funcionam como grandes reservatórios de amortecimento dos escoamentos.
Com base nas características peculiares a cada zona, as ações podem ser concebidas com objetivos específicos, de forma a preservar ou resgatar parte do funcionamento natural da bacia, garantindo uma maior resiliência ao sistema, frente às alterações provocadas pela ocupação humana.
Essa é mais uma excelente ferramenta para gestão do território, em busca da sustentabilidade. Se a sua cidade não possui planos de manejo de bacia, cobre seus representantes! A participação da sociedade na construção de cidades mais saudáveis é a única forma de desenvolvimento. Então, não deixe seu futuro na mão dos outros.
Abraços
(1) – BROOKS, K.N.; P.F. FFOLLIOT; H.M. GREGERSEN; J.L. THAMES, 1991. Hydrology and the Management of Watersheds. Iowa State University Press. 391p