em Meio Ambiente, Não categorizado, Políticas públicas, Qualidade da Água, Recursos Hídricos

No postRico tem mais sede?”, vimos que conforme cresce o nível  econômico de uma população cresce também o consumo de água. Como foi dito no post e nos seus comentários, essa relação é observada tanto nas diferenças econômicas nas cidades brasileiras, quanto na diferença do consumo de água entre os países ricos e pobres.

Desta maneira, podemos pensar que o inverso também é verdade e que o consumo de água pode indicar o grau de desenvolvimento econômico de uma população. Ou seja, quanto maior o acesso e consumo de água potável, maior o grau de desenvolvimento econômico. Assim, o fato de que algo em torno de 10% dos domicílios urbanos no Brasil ainda não terem acesso à rede de distribuição de água (veja aqui e aqui ), é um grande indicativo da desigualdade econômica no país.

Se formos olhar a questão do esgoto, a situação é ainda pior. No estado do Rio de Janeiro (um dos mais ricos da Federação), mais de 23% dos domicílios urbanos não tem o esgoto ligado a uma rede de coleta  e apenas 30% dos esgotos gerados no estado são realmente tratados.

A falta de redes coletoras de esgoto e de tratamento se reflete na realidade das populações carentes como uma tragédia agravada pela cheias de verão, que elevam o nível dos rios e canais onde esses esgotos são lançados e colocam as pessoas em contato direto com os esgotos in natura.

Nas figuras abaixo observamos a degradação de alguns corpos hídricos da Baixada Fluminense, que são chamados de valões pelos moradores da região, já que na prática são redes de esgoto a céu aberto.

“Valão” Centenario – Duque de Caxias

 

“Valão” Bananal – Duque de Caxias

 

“Valão” Santa Amélia – Belford Roxo

A realidade dessas imagens se sobrepõe aos números das estatísticas e mostra que os investimentos em saneamento são extremamente importantes para o combate a desigualdade econômica e social.

O Brasil e, mais especificamente, o estado do Rio de Janeiro, tentam vender a imagem de um paraíso tropical, mas uma visita as periferias das grandes cidades, nos mostra logo a realidade que as propagandas oficiais tentam esconder.  A sensação de se deparar com essa realidade é mais ou menos comparada quando Neo (papel desempenhado por Keanu Reeves) acorda da Matriz na “realidade real”,  se depara com uma paisagem arrasada, em  plenas ruínas queimadas de Chicago e, então, é saldado pelo líder da resistência, Morpheus, de maneira irônica: “Bem-vindo ao deserto do real”. *

Como diz o apresentador do Pânico, Emilio Zurita,  “O mundo não é dos Nets !”

 

*Essa comparação foi retirada do livro “Bem Vindo ao Deserto do Real ”  cuja introdução pode ser lida aqui.

 

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