Já falamos no post “Crescimento Urbano” como o crescimento das cidades sem planejamento pode levar à ocupação de regiões que, sob o ponto de vista da drenagem urbana, devem permanecer estrategicamente desocupadas. Usamos como exemplo a foz do rio Botas na Baixada Fluminense e citamos, no final, que o mesmo ocorria na cidade de Paraty.
Hoje, com a ajuda de nosso colega lusitano José Barbedo, aluno de doutorado que está pesquisando o caso da cidade de Paraty, vamos tentar apresentar os conflitos que estão se formando na região dessa muito simpática cidade do sul fluminense.
A cidade de Paraty tem sofrido constantemente com inundações e é da percepção dos moradores que essas inundações estão se tornando mais frequentes. Não é para menos: a região atualmente urbanizada de Paraty se espreme entre dois rios, um ao norte e outro ao sul, com o mar a leste e a BR101 a oeste.
Com ajuda da Defesa Civil, nosso colega de além-mar conseguiu marcar as regiões que frequentemente mais alagam no entorno da cidade. Se observarmos com atenção, veremos que grande parte desse alagamento ocorre a oeste da BR101, onde atualmente só existe áreas de “pasto”.
Atualmente, as regiões a montante (acima) da BR101 alagam, o que faz com que o nível d’água nesse trecho e nos trechos abaixo fique menor. Se não permitimos que os rios ocupem essas planícies por completo, a consequência será que os níveis d’água ficarão mais altos e isso irá piorar as cheias nas regiões a jusante (no centro de Paraty). A ideia de como funciona esse amortecimento está mais bem explicada no post “Crescimento Urbano”.
O problema é que o novo Plano Diretor Municipal da cidade de Paraty destina essa região para a expansão urbana. Mas a água, que antes ocupava esse espaço, vai para onde?
Construir um bairro nessa região a oeste da BR101 vai gerar dois grandes problemas: primeiro, esse bairro será suscetível a inundações (se a região alaga agora, não tem porque imaginar que não irá alagar quando ficar toda impermeável); segundo, isso vai fazer com que as cheias piorem nas regiões mais para baixo, ou seja, a área urbanizada, que já sofre com inundações e vai sofrer com cheias maiores e mais frequentes.
Na figura abaixo, podemos ver a região que atualmente alaga sobreposta à região destinada à expansão urbana.
Existem outros inconvenientes que o Plano Diretor Municipal de Paraty não leva em conta, como a ocupação de encostas, que pode agravar os problemas de deslizamentos. Mas sob o ponto de vista da drenagem urbana, a ocupação dessa área de extravasamento natural dos rios de Paraty é a mais grave.
Então, como poderemos gerenciar esse conflito entre a expansão urbana, alimentado pelo mercado imobiliário, e a gestão das enchentes na cidade?
Uma solução poderia vir da ideia de concentrar o crescimento urbano na área abaixo da BR101. O interessante é que no “Plano de Desenvolvimento Integrado e Proteção do Bairro Histórico do Município de Paraty”, elaborado em 1972, a área de crescimento da cidade era exatamente essa. Outra vantagem do “Plano de Desenvolvimento” da década de setenta é que ele tratava os rios como algo integrado à urbanização. Já o atual Plano Diretor Municipal simplesmente segrega a questão da drenagem da urbanização.
Como falamos no último post, temos que olhar a história das nossas cidades para entender os problemas que existem nelas e, mais do que isso, para não permitir que se repitam esses problemas em outras cidades. O interessante nesse caso é que o “Plano de Desenvolvimento” feito em 1972 parece estar mais bem elaborado do que o Plano Diretor Municipal de Paraty, que é da na nossa década!
O argumento mais usado contra a ideia de preservarmos áreas sem ocupação para prevenir inundações é que a cidade precisa crescer. O que devemos questionar é o que realmente tem que crescer: a qualidade de vida na cidade, a economia ou simplesmente o espaço urbanizado? Será que é valido o crescimento a qualquer custo ou devemos levar em conta a qualidade do ambiente em que as pessoas vivem? Qual é a sua opinião?
Olá Sérgio, gostaria de ter mais informações sobre as áreas de alagamento em Paraty. Pois, estou indo morar com minha família nesta cidade e fico preocupado com essa questão. Passei por enchente no Rio de Janeiro e não quero experimentar essa experência novamente. Será que tem como me encaminhar uma cópia do seu trabalho ou informar bairros seguros próximos ao Centro. Atenciosamente, Eduardo.
Prezados,
Minha dissertação de Mestrado no Programa de Engenharia Ambiental foi sobre este tema, e tendo sido responsável pela implementação da Defesa Civil de Paraty elaborei ao longo dos vários anos diversos Mapas de Risco de Inundação baseados em SIG´s e do levantamento de campo das últimas inundações com os devidos registros altimétricos, pude observar que a imagem elaborada (Mancha de Inundação) sobre o Google Earth, não corresponde à realidade em especial vários bairros de relativo valor imobiliário e duramente afetados foram citados e georeferenciados.
Atenciosamente,
Sérgio B. Araújo
Prezado Sérgio,
Ficaria feliz em dar uma olhada em sua dissertação para corrigir as informações desse post. Tem como você enviar uma copia para contato@aquafluxus.com.br?
Obrigado,
Matheus