Diversos são os problemas enfrentados pelos profissionais que lidam com projetos de manejo das águas pluviais e controle de inundações. Em sua grande maioria, os problemas são enfrentados a partir de suas consequências, ou seja, em uma eterna tentativa de adaptar as dimensões das redes de macro ou microdrenagem aos escoamentos pluviais superficiais excedentes gerados pelo processo de urbanização.
Nesse ciclo vicioso, o poder público investe milhões em projetos hidráulicos estruturais, considerando o uso do solo atual. Porém, ao longo dos anos, o crescimento das cidades e o aumento das áreas impermeabilizadas, sem qualquer planejamento ou controle, acabam por modificar as relações entre chuva e vazão na bacia, gerando maiores volumes de água no sistema de drenagem e, consequentemente, inviabilizando o projeto hidráulico implementado.
Além desse problema em looping, que as causas e consequências se repetem em cambalhotas, outra dificuldade encontrada pelos planejadores das cidades interessados na gestão das águas urbanas, está na falsa percepção de segurança da população, quando são considerados eventos de inundação com altos tempos de recorrência.
Assim como muitos brasileiros não lembram em quem eles votaram nas últimas eleições, uma parte dos moradores de um local também acaba se esquecendo dos impactos causados pelas inundações depois que uma obra para controlar os problemas dos alagamentos é implantada.
A redução da frequência das inundações acaba por gerar essa falsa sensação de segurança nos habitantes da região antes afetada, que passam a ocupar áreas de maior risco. Até mesmo o poder público, após investimentos em combate às inundações, cai na armadilha de incentivar novas ocupações em áreas “antes em risco”.
O problema é que essas áreas, além de ainda possuírem riscos associados a eventos de chuva superiores ao tempo de recorrência adotado para o projeto, acabam por ser adensadas, aumentando o volume dos escoamentos superficiais que acabarão por sobrecarregar o sistema recém-projetado.
Novos moradores, que não conheceram os problemas anteriores, tendem a aumentar ainda mais essa falsa percepção de segurança. Por isso, muitas vezes, durante a fase de diagnóstico de um projeto de drenagem, o projetista pode ouvir dos habitantes que ali, onde moram, nunca houve nenhum problema de inundação. Porém, deve-se considerar há quanto tempo essas pessoas residem na região, pois, em projetos de macrodrenagem, por exemplo, os riscos associados ao dimensionamento podem ser de 25 ou 50 anos de tempo de recorrência.
A opção por ocupar áreas com risco de inundações deve ser tomada em conjunto com um programa de educação e informação da população sobre os riscos associados em ocupar a região, coibindo a ocupação e fiscalizando as áreas com maior risco, como as zonas de passagem das cheias, referentes às faixas em que o rio passa a escoar durante uma grande cheia, com altas velocidade que conferem maior poder de destruição.
Abraços e até mais.
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Fonte da imagem de capa: http://comurb.com.br/