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Algum tempo atrás foi publicado uma matéria muito interessante no blog Cool Green Science questionando o porquê as pessoas ocupam as planícies de inundação.

No texto, a autora Julie Morse tenta entender porque mesmo sabendo dos riscos, algumas pessoas escolhem viver em áreas suscetíveis a alagamentos. Ela toma como exemplo o caso de uma foto que ficou famosa no meio acadêmico de seu país que mostra uma casa destruída pelo extravasamento do rio Sauk.

Fonte: https://blog.nature.org/science/2013/10/23/why-people-live-in-floodplains/

Depois de algum tempo, a autora encontrou a proprietária da casa, uma senhora de 90 anos chamada Virginia Doty. A casa foi construida por essa senhora em 1979, quando ela decidiu deixar a vida que levava em Seattle  para viver em Darrington, Washington. A Família de Virginia morou por 20 anos nessa casa até que, em 2002, o rio a engoliu.

Virginia mostra a foto de sua casa. Fonte: https://blog.nature.org/science/2013/10/23/why-people-live-in-floodplains/

Apesar da casa de Virginia estar fora do que consideraríamos no Brasil como a faixa marginal de proteção, ela se encontrava dentro de zona de transição de meandros do rio, região onde ao longo dos anos o leito do rio costuma formar meandros*. Quando entrevistou Virginia, a autora perguntou se valeu a pena construir sua casa naquele local e essa respondeu: “Sim, nossa família toda amava aquela casa”.

Rio com Meandros. Fonte: https://blog.nature.org/science/2013/10/23/why-people-live-in-floodplains/

Pessoas como Virginia, que escolhem morar em áreas com certo risco de inundações, mesmo tendo condições financeiras para morar em outro lugar, o fazem porque, inconscientemente, avaliam que os benefícios são maiores que os riscos. De maneira semelhante, mas em uma situação financeira oposta, quando uma família pobre escolhe viver em uma área de risco, seja de deslizamento ou de inundação, ela não o faz porque aceitou se expor a um grande risco do nada, ela o fez porque a outra alternativa, que seria viver na rua, a expõe a uma serie de riscos muito mais elevados.

Julie Morse conclui seu artigo lembrando que existe uma serie de fatores humanos que a modelos hidrológicos e de clima não podem mensurar. No caso de nossas cidades, ainda temos de colocar nessa equação as questões da desigualdade social e da falta de acesso a moradias dignas. Qualquer planejamento será capenga se não levar em conta essas coisas…

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