Durante os anos que trabalhei na revisão do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia dos Rios Iguaçu/Sarapuí (desenvolvido nos anos noventa e revisado entre 2007 e 2010 pelo Laboratório de Hidrologia e Estudos do Meio Ambiente da COPPE), me acostumei com a ideia dos rios de menor porte da região serem chamados de valões. Os moradores da região usavam esse termo, os técnicos do Estado usavam esse termo também e mesmo os relatórios técnicos da COPPE/UFRJ descreviam esses pequenos rios como valões.
Foi quando falamos a um morador de Belford Roxo que o “Valão” que passava na frente da casa dele era na verdade um rio, que percebemos o peso desse termo na concepção da macrodrenagem da região. Ao saber que ali corria um rio, o morador, com orgulho, disse:
“Vou falar pros meus amigos que não moro de frente pro valão e sim de frente para o rio!”
Valão é um termo popular, extremamente pejorativo, que surgiu para definir uma “Vala de Esgoto”. Logo, quando chamamos um rio poluído de valão, temos a ideia de que esse rio é, na verdade, uma “Vala de Esgoto” e uma “Vala de Esgoto” deve ser canalizada e pavimentada. Daí a grande expectativa e desejo da população em ver esses “valões” canalizados em galerias e escondidos sob o pavimento, escondendo o problema sem proporcionar uma solução efetiva.
Já quando chamamos um rio poluído de “rio”, logo lembramos que um rio não deve receber esgoto sem tratamento, que um rio deve ter suas margens preservadas e que a sua preservação é importante para a natureza. Isso permite que as pessoas anseiem por uma melhor qualidade daquele corpo d’água, que volta a ser visto como um Recurso Hídrico e, como tal, deve ter preservada as suas oportunidades de uso (O rio que temos X o rio que queremos).
A questão da nomenclatura adotada pelos técnicos, que já foi tema de um post do Cidade das Águas, é algo para ser visto com certo cuidado. Ao mesmo tempo que em alguns casos a escolha entre termos diferentes é irrelevante, em outros casos a definição de um termo errado limita nossa percepção da realidade. Chamar um rio pequeno de valão (por mais que ele pareça um) ajudou a fortalecer a ideia que esses rios eram esgotos e como tal deveriam ser canalizados, quando na verdade (em nosso país que tem redes de esgoto separadas das redes de drenagem) um rio não deve ser utilizado como um coletor de esgoto.
Depois da visita a esse “valão” e da conversa com o morador de Belford Roxo, passamos a chamar, dentro do Projeto Iguaçu, todos os pequenos corpos fluviais de “rios” ou “canais” e não mais de valões.
Rio ou valão eis a questão
Como disse sou contra a canalização de rios ou córregos mas de esgoto é pra canalizar
Não chamo rios de valão pois rio é rio e valão é uma vala cheia de esgoto que vem de canos de esgoto até uma área cavada ou seja uma vala já os rios não são valões são corpos d’água e talvez tenham esgotos e aqui perto de casa tem a Avenida Salim Farah Maluf que foi construída em cima do córrego do Tatuapé e sou contra a canalização
Também chamo todo rio sujo de valão. Difícil acostumar com a idéia do Rio Maracanã, por exemplo, não ser um valão, apesar do nome e características.
Muito bom o Post! Parabéns!
Obrigado Lú!
O problema de chamar de valão é esquecer que ali não deve passar esgoto!
Mil Bjus!
Gostei dessa! Esse conceito corrigirá muitos deslizes acadêmicos e da própria concepção de projetos futuros! Abs a todos.
Fala Rafael,
Quando conceituamos o problema de maneira diferente temos a chance de conceituar as “soluções” de maneira diferente também!
Abraços
Muito legal, são com pequenas ações que começamos a insatisfação com o descaso do poder público com saneamento básico. Em Minas chamamos pequenos cursos d’agua de córregos. Abraços.
Geraldo,
A insatisfação já existe, são com pequenas colocações que podemos ajudar a buscar um caminho melhor!
Abraço!
Adorei!!!
Valeu Aline!
Muito bom!
Obrigado Mel!