em Meio Ambiente, Políticas públicas, Recursos Hídricos

Depois de um verão extremamente seco na região sudeste e com uma crise no abastecimento de água da maior cidade do país, voltamos a ouvir/ler nos principais canais de informação que nós desperdiçamos muita água em nossas residências, que um bem tão escasso precisa ser gasto com mais parcimônia e que temos de economizar cada gota de água para podermos preservar nossos mananciais.

Em última instância, é verdade que consumimos muita água em nossas residências, não porque tomamos banhos muito demorados ou porque escovamos os dentes com a torneira aberta. Consumimos muita água de maneira indireta quando usufruímos de outros bens que gastam água em sua cadeia de produção. Como foi explicado no post A água de Jack Griffin, utilizamos o conceito de água virtual para “medir” a quantidade de água envolvida em todo o processo de produção de algum bem de consumo, principalmente os agrícolas. Por exemplo, para produzir 1 kilograma de carne bovina são gastos mais de 15.000 litros de água, já para 1 kilograma de feijão são gastos cerca de 359 litros, e assim vai.

Se considerarmos apenas o consumo direto de água (água de verdade, que chega a nossas caixas d`água), ele representa apenas cerca de 8% da água consumida no mundo. O restante se divide entre o consumo industrial, com a fatia de aproximadamente 22%, e o consumo destinado a produção e alimentos, que demanda 70% da água consumida no planeta. Boa parte dessa grande demanda para produção de alimentos é decorrente da irrigação, mas isso não a torna uma vilã por si só. Como foi apresentado no post Produzindo mais com menos água, são os ganhos na produtividade permitidos pela irrigação os responsáveis pela viabilidade da alimentação da população mundial. O desafio é produzir cada vez mais irrigando cada vez menos…

Claro que o fato do consumo residencial ser a menor parcela da água consumida no mundo, não quer dizer que podemos gastar água de forma desenfreada. A atual situação do Brasil nos exemplifica porque devemos economizar água em nossas casas. Com São Paulo entrando em estado de alerta por falta de água e o Acre isolado pelas cheias do rio Madeira, percebemos que a água não segue regras do mercado consumidor, assim, muitas vezes onde existe grande disponibilidade de água não existe um grande mercado consumidor da mesma, e onde existe um grande mercado consumidor de água não necessariamente existirá uma grande oferta.

Por fim vale lembrar o que foi observado no post Rico tem mais sede?: que são as residências com maior poder aquisitivo as que gastam mais água e, portanto, as que mais precisam economizar!

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