In Recursos Hídricos

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Nas últimas décadas a forma que usamos modelos em recursos hídricos sofreu mudanças radicais. Até o final dos anos 80 e começo dos anos 90 os modelos em recursos hídricos eram basicamente desenvolvidos por grupos de pesquisa em universidades e aplicados em projetos ou por esse mesmo grupo de pesquisa ou por grupos próximos. Todos que trabalham nessa área tinham grande conhecimento do que tinha por traz do que estava sendo modelado. Já atualmente, na segunda década do século XXI, modelos de recursos hídricos passaram a ser oferecidos como serviços, você nem precisa comprar a licença apenas paga uma mensalidade para usar o modelo. Se por um lado isso ampliou potencialmente o número de usuários dos modelos ao mesmo tempo diminuiu significativamente o conhecimento que esses têm da física e da matemática “empacotada” dentro de um software comercial.

Fonte: Samuel Sanchez (El Pais)

Em um artigo de 2009 dois autores, entre eles um nome extremamente conhecido em modelagem de recursos hídricos, Abbott e Vojinovic, apontaram que essa mudança é influenciada pela forma que atualmente o conhecimento é produzido e empregado na sociedade. Essa transformação, característica da mudança da modernidade para a pós-modernidade, ou usando as expressões cunhadas por Zygmunt Bauman (recém falecido sociólogo polonês) da “modernidade sólida” para a “modernidade liquida”, é marcada pela passagem de uma sociedade de provedores do conhecimento para uma sociedade de consumidores de conhecimento. Nesse contesto Abbott e Vojinovic (2009) dividem os modelos numéricos na área de recursos hídricos em cinco gerações:

  1. A primeira (década de 1950) se dedicou às soluções numéricas das equações algébricas, como por exemplo a solução numérica de uma aplicação das equações de Saint- Venant.
  2. a segunda (década de 1960) se dedica a modelagem de  um projeto ou caso de estudo em particular;
  3. a terceira (décadas de 1970-1980) começa a construção de sistemas de modelagem para o desenvolvimento de modelos individuais
  4. a quarta gerção (décadas de 1980 à 2000) embala esses sistemas de modelagem em produtos vendáveis, onde passa a ser possível comprar a licença de um modelo para a sua aplicação;
  5. e a quinta (década de 2010), dentro do paradigma ‘Software-as-a-Service’, muda o produto ofertado e  licença do modelo não é vendida ao usuário – este paga pelo uso do modelo por vez, como paga por um serviço.

Esses autores apontam que até a terceira geração praticamente não existia um gradiente de conhecimento sobre a modelagem entre os usuários e desenvolvedores (de certa forma, todos eram usuário e desenvolvedores), gradiente esse que passou a variar substancialmente na quarta geração e, ao que tudo indica, ficará ainda maior com a quinta geração de modelos.

‘A primeira geração de modeladores se dedicou às soluções numéricas das equações algébricas”. Fonte: atriz Taraji P Henson em cena do filme Hidden Figures. Creditos: Twentieth Century Fox Film Corporation.

Outro grande pesquisador de modelos em recursos hídricos, que atuou com destaque ao longo dos últimos 40/50 anos, Cunge, ressalta em um artigo de 2012 que exceto para situações muito simples, um usuário de software de modelagem deve estar bem informado sobre hipóteses básicas e leis físicas que se encontram como fundamentos do software, para que ele possa distinguir resultados de modelagem coerentes de resultados completamente incompatíveis com a realidade física do sistema e assim evitar uma completa tragédia na aplicação do modelo.

Como diz o professor Paulo Cesar Colonna Rosman:  “Todos os modelos são errados, na mão de poucos, alguns são úteis.”

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