In Meio Ambiente, Políticas públicas

Recentemente, estive na Colômbia para participar de um projeto de controle de inundações na cidade de Riohacha, em La Guajira, região norte colombiana. Essa viagem já inspirou o último texto da Luiza, que conta a interessante história da devoção dos habitantes da região à Virgen de los Remedios. Agora, gostaria de compartilhar o que vimos sobre o sistema de drenagem pluvial da área urbana.

A Bacia da Lagoa Salgada

A área urbana, quase que inteiramente, está inserida dentro da bacia da Lagoa Salgada, a qual é objeto do projeto que participamos, como pesquisadores do Laboratório de Hidráulica Computacional da COPPE/UFRJ. A bacia é relativamente plana, com um desnível de cerca de 30 metros, no máximo, com toda a área contribuindo para a lagoa, que possui uma ligação por bueiro, sob uma rodovia importante na região, com a planície fluvial do Rio Rancheria. Possui aproximadamente 5,6 km².

Diversas obras rodoviárias retiraram material para seus terraplenos de áreas localizadas dentro da bacia, formando depressões que se tornaram novas lagoas dentro da cidade. Com o tempo, essas “lagoas” sofreram um grave processo de assoreamento e hoje são áreas úmidas com baixa qualidade ambiental.

O Sistema de Drenagem da Bacia da Lagoa Salgada

Bem, sobre o sistema de drenagem, poderíamos dizer que é inexistente, pois não há rede de drenagem sistematizada, a não ser por um único coletor tronco na parte mais baixa da bacia. Porém, a água forma seu próprio sistema de drenagem e, quando chove, as lagoas transbordam e as águas passam a escoar pelas ruas, formando verdadeiros canais, que são localmente conhecidas como Calle Canal (Rua Canal, em uma tradução direta).

Uma das ruas que funcionam como canal durante as chuvas (Calle Canal)

O problema é que em Riohacha chove muito, muito mesmo, e as consequências são perturbadoras, com diversas casas destruídas pelas forças das correntezas que se formam nas ruas, habitações abandonadas e formação de áreas encharcadas insalubres espalhadas pela cidade.

Casas abandonadas em áreas de risco de inundação

O Projeto de Controle de Enchentes

Os problemas enfrentados pela população de Riohacha poderiam ser resolvidos com alguns investimentos em infraestrutura urbana, com um planejamento dos níveis mínimos de construção e implantação de rede de drenagem pluvial. Porém, seria apenas mais um projeto, com todas as limitações que uma visão tradicional traz, como necessidade de redimensionamento da rede com o crescimento da urbanização, aumento de níveis nos locais mais baixos, onde está a Lagoa Salgada, e mais outros problemas…

Para felicidade dos moradores, a proposta ganhadora da licitação, apresentada pela Fundação CREACUA, acredita na abordagem sistêmica da drenagem urbana e se propôs a desenvolver um projeto baseado no uso de “técnicas verdes” para controle das inundações.

Dessa maneira, a solução proposta pela CREACUA deve considerar a recuperação ambiental de todas as lagoas existentes, condicionando suas áreas para possibilitar a implantação de paisagens multifuncionais, que, além da função hidráulica para detenção dos escoamentos pluviais, deverão ser desenhadas para usos paisagístico, recreativo, ambiental e econômico, uma vez que poderá fornecer para a cidade um interessante atrativo turístico.

O nome do projeto é ADAPTACIÓN URBANA “VERDE” FRENTE A INUNDACIONES CON EL SOPORTE DE LA MODELACIÓN MATEMATICA Y DEL SOFTWARE MODCEL. Nesse finalzinho que entra a UFRJ, dando suporte à modelagem matemática da bacia, para diagnosticar os principais problemas e testar as melhores soluções propostas pela equipe de projeto. A equipe de trabalho responsável pelos inícios do trabalho de modelagem lá na Colômbia, foi composta pela Luiza Ribeiro (Sócia da AquaFluxus e Mestranda na COPPE/UFRJ) e Antonio Krishnamurti (Graduando em Engenharia Civil na POLI/UFRJ).

Notícia sobre o projeto no jornal local. Da esquerda para direita: Kelly (Creacua); Osvaldo (UFRJ-AquaFluxus); Wendy (Creacua); Luiza (UFRJ-AquaFluxus); o Alcade de Riohacha (Prefeito); Andrea (Creacua); Deider (Secretário de Meio Ambiente de Riohacha); Antonio (UFRJ).

Gostaria de terminar esse texto com um agradecimento à Equipe CREACUA que nos recebeu em Riohacha, com muito entusiasmo e garra para trabalhar, na certeza que estão buscando a melhor solução para a cidade e suas águas!

Abraços e beijos a:

  • Andrea Nardini
  • Lislie Zuñiga
  • Wendy Avila
  • Yair Movil
  • Jairo Escobar
  • Kelly Amador

Sem esquecer também do secretario de meio ambiente da Alcadia de Riohacha, Sr. Deider Valdes, que percorreu quase toda a cidade conosco, a pé, a fim de apresentar os principais problemas existentes.

Também faz parte do projeto a Universidade de La Guajira, com alguns estudantes e professores envolvidos diretamente no estudo.

Parte da equipe de trabalho em Riohacha (Foto de Lislie)

Parte da equipe de trabalho em Riohacha (Foto de Lislie, que aparece na ponta direita)

Espero que o projeto seja um sucesso.

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  • Antonio Beleño
    Reply

    Será um sucesso. Afinal, “Uma coisa muito boa esta acontecendo em Riohacha!”

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