Sempre que dimensionamos uma estrutura hidráulica (a calha de um rio, uma galeria de micro drenagem, o vertedor de uma barragem, etc.) consideramos uma vazão de projeto limite, para qual a estrutura irá falhar caso essa vazão seja superada. Em outras palavras, há que se quantificar a vazão de projeto para que ela garanta que estará sempre associada a um Tempo de Recorrência ou a um Risco Permissível.
Definimos de Tempo de Recorrência como o intervalo médio de tempo (geralmente em anos) em que pode ocorrer ou ser superado um dado evento, ou seja, é o inverso da probabilidade de um evento ser igualado ou ultrapassado: TR = 1/p.
Exemplo: Se uma cheia é igualada/excedida, em média, pelo menos uma vez a cada 10 anos, diz-se que TR = 10 anos, ou que p = 10% é a probabilidade de tal cheia ser igualada/excedida em qualquer ano.
A definição do Tempo de Recorrência segue padrões éticos que devem variar com o tipo de obra hidráulica, sua vida útil, facilidade de reparação de defeitos futuros e, principalmente, com risco de perdas de vida ou perdas financeiras decorrentes de um sinistro. Convém ter sempre em mente que a escolha de um valor para TR implica em assumir um Risco que se deseja correr no caso de um sinistro durante sua vida útil. Essa relação entre TR e Risco nem sempre é bem entendida e surpreende um olhar incauto.
Sendo TR o Tempo de Recorrência de um evento, p é a probabilidade de ocorrência do evento num ano (TR = 1/p) e q é a probabilidade de não-ocorrência do evento (q = 1- p). Uma regra básica é que a probabilidade de não ocorrência em vários anos é igual ao produto das probabilidades de não-ocorrência em cada ano. Isto é, a probabilidade de não ocorrência de um evento em n anos será qn = qn e, portanto, a probabilidade de ocorrência do evento pelo menos 1 vez será pn = 1 – qn.
Exemplo: Qual a chance de uma rede de microdrenagem projetada para TR = 10 anos falhar nos próximos 10 anos?
Probabilidade de ocorrência em um ano à p=1/10 = 0,1 = 10%
Probabilidade de não-ocorrência em um ano à q=1-p = 0,9 = 90%
Probabilidade de não-ocorrência em 10 anos à q10= 0,910 = 0,35 =35%
Probabilidade de ocorrência em 10 anos à p10=1-q10 = 0,65 = 65 %
Assim, a chance de a rede falhar nos próximos 10 anos é de 65%
O valor de TR pode ser também estimado em função de estudo de custos. Isto é, Custo-da-Obra vs Custo-de-Manutenção. Esse procedimento imagina que quanto maior o valor de TR, maior o custo da obra (maior vazão de projeto) e menor o custo de manutenção, pois haverá maior segurança. Assim, esse procedimento busca pelo “Ponto Ótimo”, conforme ilustrado na figura através do ponto de mínimo na curva de custo total.
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[1] São Paulo (cidade). Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. Manual de drenagem e manejo de águas pluviais: aspectos tecnológicos; fundamentos. São Paulo: SMDU, 2012.
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[…] Se você quiser ter mais informações sobre o que é o tempo de recorrência e como nós calculamos, acesse o nosso Blog nos textos “Qual a Probabilidade de um Temporal?” e “O que é Tempo de Recorrência?”. […]
[…] de vale e as pontes. Tal dimensionamento deve considerar uma vazão decorrente de uma chuva com tempo de recorrência pré-definido, que varia entre 25 e 50 anos, podendo chegar até a 100 anos. Os tempos de […]
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Muito bom artigo. Também falei um pouco sobre isso no meu blog. vejam lá: http://www.hidromundo.com.br
Flávio, se gostou do tema de uma olhada no post “COMO ESTIMAR O TEMPO DE CONCENTRAÇÃO DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA?!” que fala dos limites das formulações mais utilizadas para calculo do Tc.
Olá
Gostaria, antes de tudo, de parabenizá-lo pela iniciativa e disposição para explicar o que não lhe é exigido, nem obrigado fazer. Lendo sua explicação fiquei em dúvida sobre um valor. No seu exemplo, você diz que p= 0,1 (10%) e, em seguida, ao calcular q, você o faz subtraindo 0,2 de 1 e não 0,1. Há alguma outra consideração que deva ser levada em conta para a realização deste cálculo?
Grato
Boa Tarde Carlos,
A conta estava errada, já foi corrigida.
Obrigado!